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Meditações para o Advento: prepare-se para o Natal com Santo Afonso | MBC


Unidos à toda a Igreja, iniciamos hoje um novo tempo litúrgico. E, para que possamos viver da melhor forma este período tão importante, contaremos com o grande auxílio de Santo Afonso de Ligório, através de suas meditações para o Advento e Natal.

Medite conosco e prepare-se para viver bem este grande mistério da nossa fé.

Primeiro domingo do Advento

A temeridade do pecador e o dia do juízo

Verão o Filho do homem, que virá sobre uma nuvem com grande poder e majestade.

Sumário

Uma consideração séria nos ensina que não há atualmente no mundo pessoa mais desprezada do que Jesus Cristo; pois Ele é injuriado tão continuamente e com tão desenfreada liberdade como não o seria o mais vil dos homens. Eis porque o Senhor marcou um dia, no qual virá, com grande poder e majestade, a reivindicar a sua honra. Recorramos agora ao trono da divina misericórdia, para que naquele dia não sejamos condenados pela justiça de Deus.

Meditações para o Advento: ponto I

Considerando bem, não há no mundo atualmente quem seja mais desprezado que Jesus Cristo. Trata-se com mais consideração um aldeão do que o próprio Deus. Receiam que o aldeão ao ver-se por demais ofendido, se encolerize e tire vingança; Deus, porém, é ofendido incessantemente e de caso pensado, como se não pudesse vingar-se quando quisesse. Por isso o Senhor marcou um dia (chamado com razão, na Sagrada Escritura, o Dia do Senhor, Dies Domini), quando se dará a conhecer tal como é: O Senhor manifestou-se, fez justiça . Diz São Bernardo, explicando este texto: “O Senhor será conhecido quando vier a fazer justiça, ao passo que agora, porque quer usar de misericórdia, é desconhecido. Então esse dia não mais se chama de misericórdia e de perdão, senão dia de ira, dia de tribulação e de angústia, dia de calamidade e de miséria”.

Conforme nos ensina o Evangelho de hoje, esse dia será precedido de sinais pavorosos. “Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; na terra os povos estarão angustiados sob o ruído surdo e confuso do mar e das ondas; os homens morrerão com medo dos males que hão de vir sobre o mundo. Por fim, as virtudes dos céus (isto é, na interpretação dos Santos Padres, os nove coros dos anjos) se comoverão, e então se verá aparecer sobre as nuvens o Filho do Homem, com grande poder e majestade”, a reivindicar a glória que os pecadores nesta terra lhe quiseram tirar.

Diz Santo Tomás:

Se no horto do Getsemâni, com as palavras de Jesus Cristo: Ego Sum (Jo 18, 5), caíram por terra todos os soldados que o foram prender, que será quando Jesus, sentado para julgar, disser aos condenados: “Aqui estou, sou eu aquele a quem tanto haveis desprezado”? Que será quando pronunciar contra eles a sentença eterna: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno!

Meditações para o Advento: ponto II

O Dia do Juízo, assim como será para os réprobos um dia de pena e de terror, será, ao contrário, para os escolhidos um dia de regozijo e triunfo; porque, então, à vista de todos os homens, as suas bem-aventuradas almas serão proclamadas rainhas do paraíso e feitas esposas do Cordeiro imaculado. Oh! que ventura experimentarão os bem-aventurados, quando Jesus, voltando-se para a direita, lhes disser: Vinde, meus benditos filhos, vinde possuir o reino dos céus que vos foi preparado!

Irmão meu, o que será de ti naquele dia? São Jerônimo, quando passava os dias na Gruta de Belém, em contínuas orações e mortificações, tremia só de pensar no Juízo Universal. O venerável Pe. Juvenal Ancina, lembrando-se do Juízo ao ouvir cantar a sequência da Missa de defuntos – Dies irae, Dies illa – deixou o mundo e fez-se religioso. E tu, o que fazes para mereceres no Dia do Juízo as bênçãos divinas, em companhia dos escolhidos?

Com o intuito de nos preparar para o santo Natal, a Igreja propõe hoje o Juízo à nossa meditação. Sabendo que Nosso Senhor, na sua primeira vinda, apareceu num trono de graça e que, na segunda, aparecerá num trono de justiça rigorosíssima, quer que procuremos agora recorrer a Jesus a fim de experimentarmos os efeitos da sua infinita misericórdia. Aproximemo-nos com confiança do trono de graça.

Ah! Jesus meu e meu Redentor, Vós que um dia haveis de ser o meu Juiz: perdoa-me antes que chegue esse dia. Agora, sois meu Pai, e como tal recebeis na Vossa graça um filho que, arrependido, se prostra a Vossos pés. Meu Pai, eu Vos amo de todo o meu coração e no futuro não quero mais temer voltar a ofender-vos.

Mas já que conheceis a minha fraqueza, ajudai-me com a Vossa graça. Excitai, Senhor, o Vosso poder e vinde em meu auxílio, a fim de que, mediante a Vossa proteção, livrado dos perigos iminentes por causa de meus pecados, mereça ser salvo por Vós. Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima.

Segunda-feira da 1ª semana do Advento

O pecado de Adão e o amor de Deus para com os homens

E agora, que tenho eu que fazer aqui, diz o Senhor, visto ter sido levado sem nenhuma razão o meu povo?

Sumário

Peca Adão, nosso primeiro pai, e em castigo de seu pecado é expulso do paraíso terrestre com toda a sua descendência, condenado a uma vida de misérias e excluído para sempre do Céu. O Senhor, porém, teve compaixão dele, e como se a Sua beatitude dependesse da dos homens, e Ele não pudesse ser feliz sem estes, resolveu a todo o custo salvá-los. Ó, incompreensível amor de Deus! Mas, como é que lhe temos correspondido?

Meditações para o Advento: ponto I

Adão, nosso primeiro pai, peca; desagradecido por tantos benefícios recebidos, revolta-se contra Deus, transgredindo o preceito de não comer da árvore proibida. Por esse motivo, vê-se Deus constrangido a expulsá-lo do paraíso terrestre e a privar no futuro, tanto Adão como todos os descendentes deste revoltoso, do paraíso celeste e eterno que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Eis, pois, todos os homens condenados a uma vida de trabalhos e misérias, e para sempre excluídos do Céu. O demônio tem poder sobre eles, e incalculáveis são os estragos que o inferno continuamente faz.

Vendo, porém, o Senhor os homens reduzidos a tão mísero estado, compadeceu-se deles. Mas, como nos dá a entender o profeta Isaías, parece que Deus, por assim dizer, se lamenta e se aflige, dizendo: E agora, que tenho eu de fazer aqui, visto ter sido levado sem nenhuma razão o meu povo? . Como se quisesse dizer: “Que me restou de delícia no Paraíso, uma vez que perdi os homens que eram as minhas delícias. Mas, não; quero a todo o custo salvá-los; venha, por isso, um redentor, que em lugar do homem satisfaça à minha justiça e assim o redima da morte eterna”.

Mas, meu Senhor, tendes no Céu tantos serafins e tantos anjos, e de tal modo Vos aflige o terdes perdido os homens, para a perfeição de Vossa beatitude? Sempre tendes sido e sempre sois felicíssimo em Vós mesmo: que poderá jamais faltar à Vossa felicidade, que é infinita? “Tudo isso é verdade (assim o faz responder o cardeal Hugo), mas, perdido o homem, sinto haver perdido tudo, porquanto as Minhas delícias eram estar com os homens; agora perdi os homens, e os infelizes estão condenados a viver para sempre longe de Mim.” Oh, amor imenso de Deus! oh, amor incompreensível! oh, amor infinito!

Meditações para o Advento: ponto II

Ó meu Senhor, como é possível que, depois de terdes reparado, com a morte do Vosso divino Filho, os danos causados pelo pecado, tenha eu tornado tantas vezes a renová-los voluntariamente, com as ofensas que Vos tenho feito? Vós me salvastes à custa de tamanhos sacrifícios, e eu tão repetidas vezes tenho querido perder-me, perdendo-vos, a Vós, Bem infinito. Inspirai-me, porém, confiança à Vossa palavra, que, se o pecador se converter a Vós, não Vos recusareis a abraçá-lo: Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós . Vede, Senhor, que sou um daqueles rebeldes, um ingrato e traidor que por mais de uma vez Vos voltei as costas e Vos expulsei da minha alma. Pesa-me de todo o coração de Vos haver assim ofendido e desprezado a Vossa graça. Pesa-me, e amo-vos acima de todas as coisas. A porta do meu coração já está aberta para Vós: entrai nele, mas entrai para nunca mais Vos retirardes. Sei que nunca Vos retirareis, se eu não tornar a expulsar-vos. Eis aí o que me põe medo, eis aí também a graça que espero pedir-vos sempre; deixai-me morrer antes que venha a cometer para convosco semelhante nova e maior ingratidão.

Jesus, meu caro Redentor, pelas ofensas que Vos tenho feito mereceria não mais poder amar-vos; mas pelos Vossos méritos, peço-vos o dom do Vosso santo amor. Por isso fazei com que eu conheça o grande bem que sois, o amor que me tendes dedicado e quanto tendes feito para me obrigar a Vos amar. Ah! meu Deus e Salvador meu, que eu não viva doravante tão ingrato à Vossa tão grande bondade! Não quero separar-me mais de Vós, meu Jesus. Basta de pecados. É justo que eu empregue os anos de vida que me restam inteiramente em Vos amar e dar-vos gosto. Jesus meu, Jesus meu, ajudai-me; ajudai um pecador que Vos quer amar.

Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo para com Jesus, visto que sois sua Mãe. Dizei-lhe que me perdoe; dizei-lhe que me prenda com os laços do seu santo amor. Vós sois a minha esperança; confio em vós.

Terça-feira da 1ª semana do Advento

O decreto da encarnação do Verbo

E ouvi a voz de quem dizia: Quem enviarei eu? E quem de nós irá lá? Então disse eu: Aqui Me tens a mim, envia-me.

Sumário

Embora o Filho de Deus previsse a vida penosa que teria de levar, submeteu-se contudo de boa vontade ao decreto da Encarnação, ofereceu-se mesmo a fazer-se homem. E isso não só para satisfazer plenamente à justiça divina, mas também para nos mostrar Seu amor e obrigar-nos a que O amemos sem reserva. Como é que até o dia de hoje temos respondido a tão grande benefício?

Meditações para o Advento: ponto I

Em sua contemplação sobre a condição do gênero humano depois do pecado do primeiro homem, percebeu São Bernardo contenda entre a justiça divina e a Sua misericórdia. “Estou perdida” – diz a justiça – “se Adão não for punido”. A misericórdia, ao contrário, replica: “Estou eu perdida, se o homem não for perdoado”.

Em vista de tal contenda, o Senhor decide que, para salvar o homem réu de morte, há de morrer um inocente: Moriatur qui nihil debeat morti. Na Terra, porém, não se achava um que fosse inocente.

“Portanto” – disse o Pai Eterno – “já que entre os homens não há quem possa satisfazer à Minha justiça, quem irá res- gatar o homem?”. Os anjos, os querubins, os serafins, todos guardam silêncio, ninguém responde; só responde o Verbo Eterno, que diz: Ecce ego, mitte me – “Aqui Me tens a Mim, envia-me”.

“Meu Pai” – diz o Filho unigênito – “a Vossa majestade, por ser infinita, e ofendida pelo homem, não pode ser plenamente satisfeita por um anjo, que é pura criatura. E ainda que Vos quisésseis contentar com as satisfações de um anjo, considerai que, apesar de tantos benefícios restados ao homem, apesar de tantas promessas e ameaças, não consegui- mos ganhar o seu amor, porque até hoje não conheceu o amor que lhe tínhamos. Se quisermos obrigá-lo irresistivelmente a amar-nos, que ocasião se Nos pode deparar mais própria do que esta? Permiti que, para remir o homem, Eu, Vosso Filho, desça sobre a Terra e tome a natureza humana; permiti que, pagando com a minha morte as penas devidas ao homem, satisfaça plenamente à Vossa justiça divina, e o homem fique bem convencido do nosso amor”.

“Mas considera, meu Filho” – assim contesta o Pai – “considera que, encarregando-te de pagar pelos homens, terás de levar uma vida toda de trabalhos, e os homens Te pagarão com a mais negra ingratidão. Depois de teres vivido trinta anos como simples auxiliar de um pobre artífice, quando afinal saíres a pregar e a manifestar quem és, haverá, é verdade, uns poucos que Te queiram seguir; mas a maior parte dos homens Te desprezará, chamando-te de impostor, feiticeiro, louco, samaritano, e, finalmente, far-te-ão morrer ignominiosamente, exausto de tormentos, sobre um lenho infame”.

“Não importa” – responde o Filho – “a tudo me sujeito, contanto que seja salvo o homem. Aqui me tens a mim, envia-me ”. E assim foi decretado que o divino Filho se fizesse homem e redentor dos homens. Oh, amor incompreensível de Deus! Mas como temos nós até este momento respondido a tão grande benefício?

Meditações para o Advento: ponto II

Ó Verbo Eterno, Vós Vos fizestes homem para nos remir e acender em nossos corações o divino amor; como foi possível que encontrásseis nos corações dos homens tão grande ingratidão? Vós nada poupastes para Vos fazer amado dos homens; chegastes a dar o Vosso Sangue e a Vossa vida; como é que os homens se mostram tão ingratos para convosco? Ignoram-no porventura? Não; sabem e creem que por eles viestes do Céu para revestir-vos de carne humana e tomar sobre Vós as nossas misérias; sabem que por amor deles levastes uma vida penosa e abraçastes uma morte ignominiosa: como vivem, então, assim, esquecidos de Vós? Amam aos parentes, amam aos amigos, amam aos próprios animais; somente para convosco são tão frios, tão ingratos.

Mas, ai de mim! Acusando aqueles ingratos, acuso-me a mim próprio, que pior do que os outros Vos tenho tratado! Anima-me, porém, a Vossa bondade, que me tem tolerado tanto tempo a fim de perdoar-me, contanto que eu queira arrepender-me e amar-vos. Sim, meu Deus, quero arrepender-me; pesa-me de toda a minha alma de Vos ter ofendido, e quero amar-vos de todo o meu coração. Reconheço, ó meu Redentor, que o meu coração já não merece mais ser por Vós aceito, visto que Vos tem deixado por amor às criaturas; mas vejo que, não obstante isso, Vós ainda o quereis, e eu, com todo o poder de minha vontade, vo-lo dou e consagro. Abra- se-o todo, pois, em Vosso santo amor, e fazei com que de hoje em diante não ame senão a Vós, bondade infinita, digna de infinito amor. Amo-vos, Jesus meu, amo-vos, meu sumo Bem, amo-vos, ó amor único de minha alma.

Ó Maria, minha Mãe, vós, que sois a mãe do belo amor, impetrai-me a graça de amar o meu Deus; de vós a espero.

Quarta-feira da 1ª semana do Advento

O Verbo se faz homem na plenitude dos tempos

Quando veio a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, feito da mulher, feito sujeito à Lei.

Sumário

O divino Redentor demorou a Sua vinda quatro mil anos, não somente para que fosse mais apreciada pelos homens, senão também para que melhor se conhecesse a malícia do pecado e a necessidade do remédio. Chegada que foi a plenitude dos tempos, enviou Deus um arcanjo à Santíssima Virgem e, obtido o consentimento desta, o Verbo se fez homem no seio puríssimo de Maria. Quanto não devemos agradecer ao Senhor o ter-nos feito nascer depois que se cumpriu tão grande mistério!

Meditações para o Advento: ponto I

Considera como Deus depois do pecado de Adão deixou decorrer quatro mil anos ) antes de enviar à Terra o seu Filho para remir o mundo. E, entretanto, que trevas desoladoras reinavam sobre a Terra!

O Deus verdadeiro não era conhecido nem adorado, senão apenas num canto da Terra. Por toda a parte reinava a idolatria, de sorte que eram adorados como deuses os demônios, os animais e as pedras. Admiremos nisso a sabedoria divina. Demora a vinda do Redentor para torná-la mais aceitável aos homens: demora-a para que se conheça melhor a malícia do pecado, a necessidade do remédio e a graça do Salvador. Se Jesus Cristo tivesse vindo logo depois do pecado de Adão, a grandeza do benefício teria sido pouco apreciada. Agradeçamos, pois, à bondade de Deus, o ter-nos feito nascer depois de já realizada a grande obra da redenção. Eis que já é chegado o feliz tempo que foi chamado a plenitude do tempo: quando veio a plenitude do tempo . O Apóstolo diz plenitude por causa da abundância da graça que por meio da Redenção o Filho de Deus vem trazer aos homens. Eis que já se envia o anjo embaixador à Virgem Maria na cidade de Nazaré, para anunciar a vinda do Verbo que no seio dela quer encarnar-se. O anjo a saúda, chama-a cheia de graça e bendita entre as mulheres.

A virgenzinha humilde se perturba com esses louvores por causa da sua profunda humildade. O anjo, porém, anima-a e lhe diz que achou graça diante de Deus; isto é, a graça que estabelece a paz entre Deus e os homens e repara os estragos ocasionados pelo pecado. Em seguida, anuncia-lhe o nome de Salvador que deveria dar ao filho: Pôr-lhe-ás o nome de Jesus . Anuncia-lhe que seu filho seria o próprio Filho de Deus, que deveria remir o mundo e desta forma reinar sobre os corações dos homens. Eis que, afinal, Maria consente em ser mãe de tal Filho: Faça-se em mim segundo a tua palavra . E no mesmo momento o Verbo Eterno se fez carne e ficou sendo verdadeiro homem: E o Verbo se fez carne .

Meditações para o Advento: ponto II

Ó Verbo divino feito homem por mim, se bem que Vos seja tão humilhado e feito criança pequenina no seio de Maria, tenho e reconheço-vos por meu Senhor e Rei, mas Rei de amor. Meu caro Salvador, visto que viestes sobre a Terra e tomastes a nossa mísera carne a fim de reinar sobre os nossos corações, ah! vinde estabelecer o Vosso reino também em meu coração, que em outros tempos esteve sob o domínio de Vossos inimigos, mas agora, assim o espero, é Vosso. Quero que seja sempre Vosso e que de hoje em diante Vós sejais o seu único senhor: Reinai no meio dos vossos inimigos . Os outros reis reinam pela força das armas, mas Vós vindes reinar com a força do amor e, por isso, não viestes com pompa real, não vestido de púrpura e ouro, não ornado com cetro e coroa, nem acompanhado de exércitos de soldados. Viestes para nascer numa estrebaria, pobre e abandonado, para ser posto numa manjedoura sobre um pouco de palha, porque é assim que quereis começar a reinar em nossos corações.

Ó meu Rei-Menino! Como tenho podido revoltar-me tantas vezes contra Vós e viver tanto tempo como Vosso inimigo, privado de Vossa graça, ao passo que Vós, para me obrigardes a Vos amar, abdicastes da Vossa majestade divina e Vos humilhastes até ser visto, ora como criança numa lapa, ora como artesão numa oficina, ora como réu sobre uma cruz? Feliz de mim, se tendo saído, conforme espero, da escravidão de Lúcifer, me deixe para sempre governar por Vós e pelo Vosso amor! Ó Jesus, meu Rei, Vós que sois tão amável e tão enamorado de nossas almas, eia, tomai posse da minha; eu vo-la dou toda inteira. Aceitai-a a fim de que Vos sirva sempre, mas Vos sirva por amor. A Vossa majestade merece ser temida, mas a Vossa bondade muito mais merece ser amada. Vós, ó, meu Rei, sois e sereis sempre o meu único amor, e o único temor que terei será o de Vos dar desgosto. Assim espero. Ajudai-me com a Vossa graça.

Querida Senhora minha, Maria, vós deveis impetrar-me a graça de fidelidade a este Rei amado da minha alma.

Quinta-feira da 1ª semana do Advento

O Senhor criou uma coisa nova sobre a terra.

Sumário

Antes da vinda do Messias, o mundo estava abismado na ignorância, e o Deus verdadeiro era apenas conhecido num cantinho da terra, na Judeia. De todas aquelas trevas livrou-nos Jesus Cristo, que desde o primeiro instante da sua concepção deu mais glória ao Pai Eterno do que lho têm dado e darão todos os anjos e santos. Tomemos animo nós, os pobres pecadores, e ofereçamos a Deus-Pai este Menino e nos redimamos de todas as ofensas que lhe temos feito.

Meditações para o Advento: ponto I

Antes da vinda do Messias, o mundo estava abismado na noite tenebrosa da ignorância e do pecado. No mundo o Deus verdadeiro era conhecido tão somente num cantinho da terra, a saber, na Judeia: Deus é conhecido na Judeia . Em todo o resto do mundo eram adorados como deuses os demônios, os animais e as pedras. Em toda a parte reinava a noite do pecado, que cega as almas, enche-as de vícios e as priva da vista do estado miserável em que se acham, inimigas de Deus e condenadas ao Inferno. Dessas trevas veio Jesus livrar o mundo. Livrou-o da idolatria, dando-lhe o conhecimento do Deus verdadeiro; livrou-o do pecado, com a luz de Sua doutrina e dos Seus exemplos divinos: O Filho de Deus veio ao mundo para destruir as obras do diabo .

O profeta Jeremias predisse que Deus havia de criar um novo Menino para ser o Redentor dos homens: O Senhor criou uma coisa nova sobre a terra. Esse novo Menino foi Jesus Cristo, que faz as delícias do Paraíso e é o amor de Deus-Pai, que fala assim: Este é o meu Filho Dileto em que deposito as minhas complacências . Embora criança nova, deu a Deus mais honra e glória no primeiro momento de Sua criação do que lhe têm dado e durante toda a eternidade lhe poderão dar todos os anjos e santos juntos. Por isso é que no nascimento de Jesus os anjos cantaram: Gloria in excelsis Deo – “Glória a Deus nas alturas”. Jesus-Menino rendeu a Deus mais glória do que Lhe arrebataram os pecados de todos os homens.

Meditações para o Advento: ponto II

Tomemos, pois, ânimo, nós pobres pecadores. Ofereçamos ao Pai Eterno o divino Menino; apresentemos-lhe as lágrimas, a obediência, a humildade, a morte e os méritos de Jesus Cristo e ressarciremos a Deus toda a injúria que com as nossas ofensas Lhe tenhamos feito.

Ah, meu Deus eterno! Eu Vos desonrei, antepondo tantas vezes à Vossa vontade a minha, e a Vossa santa graça às minhas satisfações vis e miseráveis. Que esperança de perdão poderia eu ter, se Vós não me tivésseis dado Jesus Cristo exatamente a fim de que fosse a esperança de nós, pecadores? Ele é a propiciação pelos nossos pecados (I Jo 2,2). Sim, porque Jesus Cristo, sacrificando a vida para a satisfação das injúrias que nós Vos tínhamos feito, mais glória Vos deu do que nós Vos havíamos desonrado com os nossos pecados. Aceitai-me, pois, ó meu Pai, pelo amor de Jesus Cristo.

Pesa-me, ó Bondade infinita, de Vos ter ofendido. Não sou digno de perdão; mas Jesus Cristo é digno de ser por Vós atendido. Estando pregado na cruz por mim, Ele Vos pediu um dia: Pai, perdoa-lhes ; e mesmo agora no Céu Vos pede que me aceiteis por filho.Temos por advogado Jesus Cristo, que também intercede por nós . Aceitai um filho ingrato que primeiro Vos deixou, mas agora volta com a resolução de Vos amar. Sim, meu Pai, eu Vos amo e quero amar-vos sempre. Ah! Meu Pai, agora que conheço o amor que me tendes dispensado e a paciência que por tantos anos haveis usado para comigo, não quero mais viver sem Vos amar. Dai-me um grande amor que me faça sempre chorar os desgostos que Vos tenho dado, a Vós, meu Pai tão bom, e me faça sempre arder de amor para com um Pai tão amoroso. Meu Pai, eu Vos amo, eu Vos amo, eu Vos amo.

Ó Maria, Deus é meu Pai e vós sois minha Mãe. Vós podeis tudo junto de Deus: ajudai-me; alcançai-me a santa perseverança e o Seu santo amor.

Sexta-feira da 1ª semana do Advento

Quais os que na verdade seguem a Cristo

Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me.

Sumário

Devemo-nos persuadir de que Deus nos conserva no mundo, para que suportemos com paciência as tribulações que Ele mesmo nos envia para o nosso bem. Resolvamo-nos, pois, a recusar a nós mesmos aquilo que um amor próprio desordenado nos pede; abracemos de boa vontade a nossa cruz de cada dia; e não nos cansemos de carregá-la após Jesus Cristo, até o Calvário – isto é, até a morte.

Meditações para o Advento: ponto I

Façamos hoje algumas reflexões sobre estas palavras de Jesus Cristo. Se alguém quer vir após mim. Jesus não somente quer que a Ele vamos, senão que vamos em Seu seguimento. Jesus vai sempre para diante e não Se detém enquanto não chegar ao Calvário, onde morrerá. Portanto, se O amamos, devemos segui-lo até a nossa morte. Por isso, faz-se mister que cada um se negue a si mesmo: isto é, recuse a si mesmo o que o amor próprio pede, mas que não é do agrado de Jesus Cristo.

Diz ainda: Tome a sua cruz cada dia e siga-me. Tome: de pouco serve carregá-la forçadamente; todos os pecadores a carregam, mas sem merecimento. Para a carregarmos com merecimento, devemos abraçá-la de boa vontade. Cruz: sob o nome de cruz vem toda a tribulação, que por Jesus Cristo é chamada cruz, afim de no-la tornar doce, com pensar que em uma cruz Ele morreu por amor a nós.

Jesus diz: a sua cruz. Alguns, ao receberem qualquer consolação espiritual, se oferecem para sofrer o que têm sofrido os mártires: acúleos, unhas de ferro e lâminas candentes; mas, logo em seguida, não sabem sofrer alguma dor de ca- beça, uma falta de atenção da parte de um amigo, o enfado de um parente. Irmão meu, Deus não quer de ti que sofras nem cavaletes, nem unhas de ferro, nem lâminas candentes; mas quer que sofras com paciência essa dor, esse desprezo, esse aborrecimento. Tal outro quisera ir a um deserto para sofrer; quisera praticar grandes penitências; entretanto não sabe suportar um seu superior, um seu companheiro de ofício. Deus, porém, quer que ele carregue a cruz que lhe é dada para carregar, e não aquela que ele mesmo escolheu.

Ainda diz: cada dia. Alguns abraçam a cruz no princípio, quando ela se apresenta; mas quando dura, dizem: “Não posso mais”. Todavia, Deus quer que continuemos a carregá-la sem cessar, até a morte. Eis aí portanto em que consiste a salvação e a perfeição; consiste em cumprir estas três palavras: Negue-se, recusemos ao amor próprio o que não lhe convém; tome, abracemos a cruz que Deus nos envia; siga, sigamos as pegadas de Jesus Cristo até a morte.

Meditações para o Advento: ponto II

Devemo-nos, pois, persuadir de que Deus nos conserva no mundo, para que carreguemos as cruzes que nos envia; e é isto o que faz a nossa vida meritória. Porque nosso Salvador nos ama, veio sobre esta terra, não para gozar, mas para sofrer, a fim de que Lhe sigamos as pegadas: Cristo padeceu por nós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas . Contemplemo-lo, a Ele que vai adiante com a Sua cruz, traçando o caminho pelo qual devemos segui-lo, se nos quisermos salvar. Oh, quão grande remédio, dizer a Jesus Cristo em cada aflição: “Senhor, Vós quereis que eu carregue esta cruz; aceito-a e quero sofrê-la até quando quiserdes!”. Assim, e muito mais ainda, o merece Jesus Cristo, que, para nos livrar do Inferno, escolheu uma vida de trabalho e uma morte de dor.

Jesus meu, somente Vós pudestes ensinar-nos estas máxi-mas de salvação, de todo contrárias às máximas do mundo, e somente Vós nos podeis dar a força para carregarmos a cruz com paciência. Não Vos peço que me façais isento dos sofrimentos; peço-vos somente que me deis força para sofrer com paciência e resignação. Pai Eterno, Vosso Filho prometeu em Seu nome: Em verdade, em verdade, vos digo, que, se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará .

Eis, pois, o que Vos tenho feito, por não ter praticado a pa- ciência nas cruzes que me enviastes. Dai-me o Vosso amor, que me dará força para sofrer tudo por Vós. Privai-me de todas as coisas, de todos os bens terrestres, dos parentes, dos amigos, da saúde do corpo, de todas as consolações; tirai-me ainda a vida, mas não o Vosso amor. Dai-vos a mim, e nada mais Vos peço. Virgem Santíssima, obtende-me para com Jesus Cristo um amor constante até a morte.

Sábado da 1ª semana do Advento

Inefável dignidade de Maria Santíssima

Da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo.

Sumário

É tão grande a dignidade de Maria como mãe de Jesus Cristo, que só Deus com a Sua sabedoria infinita a pôde compreender; mas toda a Sua onipotência não pode fazer outra maior. Façamos um ato de viva fé acerca desta divina maternidade; alegremo-nos com a Santíssima Virgem, e aumentemos a nossa confiança nela, porquanto de certo modo nos é devedora de sua altíssima dignidade.

Meditações para o Advento: ponto I

Para compreender a altura a que Maria foi sublimada, seria necessário compreender quão sublime é a altura e grandeza de Deus. Bastará dizer que Deus fez a Santíssima Virgem mãe do Seu Filho para ficar entendido que não a pode elevar mais alto do que a elevou. Bem disse Santo Arnaldo Cartotense que Deus, fazendo-se Filho da Virgem, sublimou-a acima de todos os santos e anjos. Ainda que, em verdade, ela seja infinitamente inferior a Deus, ao mesmo tempo está imensa e incomparavelmente acima de todos os espíritos celestiais, como fala Santo Efrém. Por esse motivo diz-lhe Santo Anselmo: “Senhora, não tendes quem vos seja igual, porque tudo quanto há, ou está acima ou abaixo de vós; só Deus vos é superior, e todos os mais vos são inferiores”. (Tractatus de conceptione B. Mariae (PL 159, 307B).))

Em uma palavra, é tão grande a dignidade da Virgem, que, se bem que Deus só com a Sua sabedoria infinita a possa compreender, todavia, no dizer de São Boaventura, com toda a Sua onipotência não pode fazer outra maior . Quem considerar isso, deixará de estranhar por que os santos evangelistas, que tão difusamente registram os louvores de um São João Batista, de uma Madalena, tão escassos se mostram em descrever as grandezas de Maria. Tendo dito que desta exímia Virgem nasceu Jesus, não julgaram necessário acrescentar outra coisa; porque neste seu maior privilégio se acham incluídos os demais. Qualquer título que se lhe dê, nunca chegará a honrá-la tanto quanto o de Mãe de Deus.

Façamos um ato de viva fé na maternidade divina de Maria, alegremo-nos com ela, agradeçamos a Deus por ela e protestemos que estamos prontos a dar a nossa vida em defesa desta verdade, como de todas outras que lhe dizem respeito.

Meditações para o Advento: ponto II

Diz Santo Anselmo que é mais pelos pecadores do que pelos justos que Maria foi sublimada a Mãe de Deus; do mesmo modo que Jesus disse de si próprio que veio para chamar, não os justos, mas os pecadores. A divina Mãe tem, pois, uma certa obrigação de socorrer os miseráveis que se lhe recomendam, porquanto é a eles que é, por assim dizer, devedora de sua altíssima dignidade: “Tudo o que possuis, o deveis aos pecadores.” Congratulemo-nos, portanto, com Maria, sim; mas congratulemo-nos também com nós mesmos e ponhamos nela toda a nossa esperança.

Ó Mãe de Deus, eis aqui a vossos pés um miserável pecador, que a vós recorre e em vós confia. Não mereço que lanceis sobre mim o vosso olhar; mas sei que, vendo vosso Filho morto para a salvação dos pecadores, tendes um extremo desejo de ajudá-los. Ó Mãe de misericórdia, vede as minhas misérias e tende piedade de mim. Ouço que todos vos chamam refúgio dos pecadores, esperança dos que desesperam: sede também o meu refúgio, a minha esperança, o meu auxílio. Deveis salvar-me com a vossa intercessão. Socorrei-me pelo amor de Jesus Cristo. Estendei a mão a um pobre caído que se recomenda a vós. Sei que é a vossa consolação ajudar um pecador, quando é possível; ajudai-me, pois, já que o podeis fazer. Pelos meus pecados, perdi a graça divina e a minha alma. Entrego-me em vossas mãos; dizei-me o que hei de fazer para de novo entrar na graça do meu Senhor; quero fazê-lo sem demora. Ele me envia a vós, para que me socorrais, quer que eu me refugie na vossa misericórdia a fim de que eu me salve não somente pelos méritos de vosso Filho, como também pelas vossas orações. A vós recorro; e vós rogai por mim. Mostrai como sabeis valer a quem confia em vós. Assim espero, assim seja. Amém.

Segundo domingo do Advento

O encarceramento de João Batista e a utilidade das tribulações

Como João, estando no cárcere, tivesse ouvi- do as obras de Cristo (…).

Sumário

É muito grande a utilidade que nos trazem as tribulações. O Senhor no-las envia para em seguida nos enriquecer com as melhores graças. Considerai, com efeito, que São João Batista, estando encarcerado, chega a conhecer as obras de Cristo, e recebe d’Ele os mais elevados elogios. No tempo das tribulações, em vez de nos lastimarmos, abracemos a cruz com resignação e com ação de graças.

Meditações para o Advento: ponto I

É no tempo das tribulações que Deus enriquece as almas suas prediletas com as graças mais copiosas. Vede São João Batista, que entre as correntes e as angústias do cárcere chega a conhecer as obras de Jesus Cristo, recebe da boca de Jesus os elogios mais honrosos de homem forte, de penitente austero, de maior dos profetas, e é apontado e tido como o Anjo do Senhor, destinado a preparar-lhe o caminho: preparará diante de ti o teu caminho . Bem apreciáveis são, portanto, as utilidades que as tribulações nos trazem, e o Senhor no-las envia, não porque nos quer mal, mas porque nos quer bem.

Quem não foi tentado, o que sabe? . Quem vive na prosperidade e nunca tem experimentado a adversidade, nada sabe acerca do estado da sua alma e será molestado com muitas tentações de soberba, de vanglória, de cobiça de mais riquezas, de mais honras, de mais prazeres. Ora, de todas estas tentações livram-nos as adversidades, ao mesmo tempo em que nos fazem humildes e contentes no estado em que aprouve ao Senhor colocar-nos. Ademais, elas desvendam-nos os olhos que a prosperidade tinha vendado; e se somos pecadores, não somente reconduzem-nos, como outrora o filho pródigo, aos pés de nosso Pai celestial, como ainda nos farão pagar pelos pecados cometidos muito melhor do que o fariam todas as penitências por nós livremente escolhidas. Eis a razão por que Santo Agostinho repreende o pecador que se lamenta das tribulações enviadas por Deus e lhe diz: “Meu irmão, quem te dera compreender que remédio eficaz são as tribulações para curar as chagas que te feriram os pecados!”.

Se somos justos, as tribulações nos desprendem o coração das coisas da Terra, visto que não achamos nela senão amarguras. Afeiçoam-nos aos bens do Céu, onde se acha a verdadeira felicidade, fazem-nos frequentemente lembrados de Deus e obrigam-nos a recorrer à Sua misericórdia, ao vermos que só Ele pode nos aliviar das nossas misérias. Ademais, as tribulações fazem-nos ganhar grandes tesouros de méritos junto de Deus, fornecendo-nos ocasião para praticar as virtudes que Lhe são mais caras, tais como a humildade, a paciência, a conformidade com a vontade divina, etc.

Numa palavra: são tais e tantas as vantagens das tribulações, que São Tiago chega a chamar bem-aventurado àquele que as sofre com paciência: Bem-aventurado o homem que sofre a provação .

Meditações para o Advento: ponto II

Aquele que vive nesta terra em tribulações tem nisso um sinal certo de que é querido de Deus, e tanto mais querido quanto mais graves elas forem. Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a tentação te provasse, disse o anjo a Tobias . Jesus disse o mesmo mais claramente a Santa Teresa d’Ávila: “Minha filha”, disse-lhe, “as almas mais queridas de meu Pai são aquelas que sofrem padecimentos mais graves”. A santa, pois, animada deste espírito, costumava dizer que não trocaria os seus sofrimentos por todos os tesouros do mundo.

Desse mesmo espírito nós também devemos estar animados, se quisermos um dia chegar ao Paraíso e ser glorificados como santos. Bem longe de nos lamentarmos nas tribulações, abracemo-las dando graças a Deus; aceitemo-las não somente conformando-nos com a vontade divina, mas alegrando-nos por Deus nos tratar como tratou a Jesus Cristo, o Homem de dores , e Maria Santíssima, a Rainha dos Mártires. Digamos muitas vezes como Jó: Se aceitamos de Deus a felicidade, não deveríamos também aceitar a infelicidade? . Se de boa vontade tenho recebido da mão de Deus os bens, isto é, a prosperidade terrestre; por que não receberei com mais satisfação os males, isto é, as tribulações que me são muito mais vantajosas do que a prosperidade? Faça o Senhor de mim e de tudo o que é meu segundo a sua vontade e seja sempre bendito o Seu santo nome: bendito seja o nome do Senhor .

Assim quero fazer, ó meu Deus. Mas Vós, que conheceis o meu nada, confortai-me com a Vossa santa graça, e excitai o meu coração a preparar os caminhos para o Vosso Filho unigênito, a fim de que, pela sua vinda, possa servir-vos pura e sinceramente.“Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo. Doce Coração de Maria, sede minha salvação.”

Segunda-feira da 2ª semana do Advento

Deus entrega o próprio Filho à morte para nos dar a vida

Deus, que é rico em misericórdia, por causa da extrema caridade com que nos amou, também quando mortos estávamos pelos pecados, nos vivificou juntamente com Cristo.

Sumário

Pelas nossas culpas, nós, pobres pecadores, já estávamos todos mortos e condenados ao Inferno. Deus, porém, por causa do imenso amor que tem às nossas almas, quis restituir-nos à vida, enviando à Terra o Seu Filho unigênito para morrer por nós. Pois dizei-me: se Jesus Cristo morreu por amor a nós, não é mais do que justo que nós somente para Ele vivamos, e que Ele seja o único senhor dos nossos corações?

Meditações para o Advento: ponto I

Considera que o pecado é a morte da alma, visto que esse inimigo de Deus nos priva da graça divina, que é a vida da alma. Assim nós, os pobres pecadores, já estávamos todos mortos por nossa culpa e todos condenados ao Inferno. Deus, porém, por causa do imenso amor que tem às nossas almas, quis restituir-nos à vida. Que fez? Enviou à Terra o Seu Filho unigênito a fim de morrer e, com a Sua morte, recuperar-nos a vida. É com razão que o Apóstolo chama esta obra de excesso de amor . Com efeito, nunca o homem pudera nutrir esperança de receber a vida de um modo tão amoroso, se Deus não houvera excogitado esse meio de remi-lo.

Estavam mortos todos os homens, e não havia para eles remédio. Mas o Filho de Deus, pelas entranhas de Sua misericórdia, desceu do Céu a restituir-nos à vida. É exatamente por isso que o Apóstolo chama Jesus Cristo nossa vida . Eis que o nosso Redentor, já encarnado e feito menino, nos diz: Eu vim para eles terem vida, e para a terem em maior abundância . Jesus veio e escolheu a morte para Si, a fim de nos dar a vida. É, pois, justo que vivamos unicamente para um Deus que se dignou de morrer por nós. É justo que o único senhor de nosso coração seja Jesus Cristo, porquanto deu o Seu Sangue e a Sua vida para ganhá-lo. Ó meu Deus, quem será tão ingrato e tão desgraçado que, sabendo pela fé que um Deus morreu para lhe granjear o amor, se recuse a amá-lo e, renunciando à amizade divina, queira fazer-se, por sua livre vontade, escravo do Inferno?

Meditações para o Advento: ponto II

Ó meu Jesus, se Vós não tivésseis aceitado e padecido a morte por mim, teria eu ficado morto no meu pecado, sem esperança de me salvar e de poder amar-vos. Mesmo depois que com a Vossa morte me obtivestes a vida, eu muitas vezes tenho tornado a perdê-la voluntariamente pelos meus pecados. Morrestes para Vos assenhoreardes do meu coração, e eu, rebelando-me contra Vós, escravizei-o ao demônio. Tenho-vos desrespeitado e dito que não Vos queria para meu Senhor. Tudo isso é verdade, mas é também verdade que não quereis a morte do pecador, mas que se converta e viva, e Vós morrestes a fim de nos dardes a vida.

Amado Redentor meu, pesa-me de Vos ter ofendido; perdoai-me pelos merecimentos de Vossa Paixão. Dai-me a Vossa graça; dai-me aquela vida que me adquiristes com a Vossa morte, e de hoje em diante reinai como supremo senhor em meu coração. Não, não quero mais que seu senhor seja o demônio, que não é meu Deus, que não me ama e nada tem padecido por mim. Em tempos passados foi ele, não o verdadeiro senhor da minha alma, senão o injusto possuidor. Vós só, Jesus meu, sois o meu verdadeiro Senhor, Vós que me haveis criado e remido com o Vosso Sangue; Vós só me haveis amado e amado tanto. É justo que eu seja unicamente Vosso no tempo de vida que me resta. Dizei-me o que quereis que eu faça, pois que eu quero fazê-lo. Castigai-me como quiserdes: aceito tudo. Poupai-me somente o castigo de ter de viver sem o Vosso amor; fazei com que Vos ame, e depois disponde de mim segundo a Vossa vontade.

Maria Santíssima, meu refúgio e minha consolação, recomendai-me a vosso Filho; a Sua morte e a vossa intercessão são a minha única esperança.

Terça-feira da 2ª semana do Advento

Retrato de um homem que acaba de passar à outra vida

Tirar-lhes-ás o espírito, e deixarão de ser, e tornar-se-ão no seu pó.

Sumário

Imaginemos que estamos vendo uma pessoa que acaba de expirar. Contemplemos nesse cadáver a cabeça pendida sobre o peito, o cabelo desgrenhado, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto cinzento, a língua e os lábios cor de ferro, o corpo frio e pesado. Quantas pessoas, à vista de um parente ou de um amigo morto, não mudaram de vida e deixaram o mundo?

Meditações para o Advento: ponto I

Imagina que estás vendo uma pessoa que acaba de exalar o último suspiro. Contempla esse cadáver deitado ainda no leito, a cabeça caída sobre o peito, o cabelo desgrenhado, banhado ainda no suor da morte, os olhos encavados, as faces descarnadas, o rosto cinzento, a língua e os lábios cor de ferro, o corpo todo frio e pesado. Empalidece e treme quem quer que o veja. Quantas pessoas, à vista de um parente ou amigo defunto, não mudaram de vida e deixaram o mundo? Mais horror ainda inspira o cadáver quando começa a corromper-se. Não se passaram bem vinte e quatro horas que esse moço morreu, e já o mau cheiro se faz sentir. É preciso abrir as janelas e queimar bastante incenso; é preciso cuidar que em breve seja levado à igreja e posto debaixo da terra, para que não infeccione a casa toda.

Eis aí em que se tornou esse moço orgulhoso, esse dissoluto! Ainda há pouco acolhido e desejado nas sociedades, e agora feito objeto de horror e de abominação para quem o vê! Os parentes anseiam por fazê-lo levar para fora da casa e pagam aos coveiros para que o levem encerrado num caixão e o entreguem à sepultura. Outrora gabavam-se o espírito, a beleza, o trato fino e os bons ditos; mas pouco depois de sua morte perde-se a memória de tudo isso: A memória deles pereceu com ruído .

Meditações para o Advento: ponto II

Ao ouvirem a notícia de sua morte, uns dizem que era homem honrado, outros que deixou os negócios em bom estado; uns lamentam-se, porque o defunto era-lhes útil; outros regozijam-se, porque a morte dele lhes traz proveito. Por fim, dentro em breve, já ninguém falará dele. Desde os primeiros dias, os parentes mais chegados não querem ouvir falar dele a fim de não se lhes avivar a saudade. Nas visitas de pêsames, trata-se de outros assuntos, e se alguém porventura fala do defunto, logo os parentes atalham: “Por favor, não pronuncia mais o seu nome”. E, entretanto, onde é que estará a alma daquele infeliz?

Pensai que, assim como vós fizestes na morte de vossos amigos, assim os outros farão para convosco. Os vivos aparecerão por sua vez na cena, ocupando os bens e os lugares dos mortos, e destes já não se faz ou quase não se faz caso ou menção. Os parentes afligir-se-ão ao princípio por alguns dias, mas depressa consolar-se-ão com a parte da herança que lhes couber, de tal sorte que dentro em breve até se regozijarão de vossa morte. No mesmo quarto onde exalastes a alma, e onde fostes julgado por Jesus Cristo, se jogará e se rirá como antigamente. E a vossa alma, onde estará então?

Ó Jesus, Redentor meu, agradeço-vos por não me terdes deixado morrer quando estava em desgraça convosco.

Há quantos anos não merecia estar no Inferno! Se eu tivesse morrido em tal dia, em tal noite, que seria de mim por toda a eternidade? Senhor, eu Vos agradeço e não quero mais resistir às Vossas chamadas. Quem sabe se as palavras que acabo de ler não são para mim o Vosso último convite! Confesso que não mereço misericórdia: tantas vezes me tendes perdoado e eu, ingrato, tenho tornado a ofender-vos. Mas já que não sabeis desprezar um coração que se humilha e se arrepende, eis aqui um traidor que a Vós recorre arrependido. Por piedade, não me afasteis. Verdade que é que Vos ultrajei mais que muitos outros, pois que, mais que muitos outros fui favorecido por Vós com luzes e graças, porém o sangue que derramastes por mim anima-me e oferece-me o perdão, se eu me arrepender. Sim, meu Bem supremo, arrependo-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado. Perdoai-me a dai-me a graça de Vos amar para o futuro. Já demasiadamente Vos ofendi. Não quero empregar a vida que ainda me resta a ofender-vos, que- ro empregá-la a chorar sempre os desgostos que Vos dei, e a amar-vos de todo o meu coração. Ó Maria, esperança minha, rogai a Jesus por mim.

Quarta-feira da 2ª semana do Advento

O amor que o Filho de Deus nos mostrou na Redenção

Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós.

Sumário

A salvação ou a condenação de todos os homens não aumenta nem diminui em nada a felicidade do Filho de Deus, que é a bem-aventurança mesma. Todavia, Ele tem feito e padecido tanto por nós que, se a Sua beatitude dependesse da nossa, não teria podido padecer e fazer mais. Quão grande não deve ser, pois, nosso amor para com Jesus Cristo? E quão grande a nossa confiança de obtermos, pelos Seus merecimentos, todas as graças que desejemos!

Meditações para o Advento: ponto I

Considera que o Verbo Eterno é o Deus infinitamente feliz em Si mesmo, de tal sorte que a Sua felicidade não pode ser aumentada. Nem mesmo a salvação ou a condenação de todos os homens podem acrescentar-lhe ou diminuir-lhe alguma coisa. Contudo, para nos salvar a nós, vermes miseráveis, Ele tem feito e padecido tanto que, se a Sua beatitude, no dizer de S. Tomás, tivesse sido dependente da do homem, não poderia fazer nem padecer mais. Com efeito, se Jesus Cristo não pudesse ser feliz sem a nossa redenção, como poderia humilhar-se mais do que Se humilhou, tomando sobre Si todas as nossas enfermidades, as humilhações da infância, as misérias da vida humana e uma morte tão desapiedada e ignominiosa? Só um Deus seria capaz de amar-nos tão excessivamente a nós míseros pecadores, tão indignos de sermos amados.

Diz um piedoso escritor: “Se Jesus Cristo nos tivesse permitido pedir-lhe a maior prova de seu amor, quem jamais se atreveria a pedir-lhe que se fizesse homem como nós, que se sujeitasse a todas as nossas misérias; ainda mais, que se fizesse de todos os homens o mais pobre, o mais desprezado, o mais maltratado, até morrer por mão do algoz e à força de tormentos num patíbulo infame, amaldiçoado e abando- nado de todos, mesmo de Seu próprio Pai, que desamparou o Filho, para não nos abandonar a nós em nossa perdição? Mas o que nós nem ousáramos conceber em pensamentos, o Filho de Deus o excogitou e realizou”. Desde o berço, o divino Menino Se ofereceu por nós aos trabalhos, aos opróbrios e à morte: Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós. Sim, Jesus nos amou, e por amor Se nos deu a Si mesmo, a fim de que, oferecendo-se ao Pai como vítima, em expiação de nossos delitos, possamos, em vista de Seus méritos, obter da divina bondade todas as graças que desejarmos. Esta vítima agrada mais ao Pai do que se Lhe fosse oferecida a vida de todos os homens e de todos os anjos. Ofereçamos, portanto, sempre a Deus os merecimentos de Jesus Cristo, e por eles busquemos e esperemos todo o bem.

Meditações para o Advento: ponto II

Ó meu Jesus, eu seria por demais injusto para com a Vossa misericórdia e o Vosso amor, se, depois de me haverdes dado tantas provas do afeto que me tendes e do Vosso desejo de me salvar, eu desconfiasse de Vossa misericórdia e de Vosso amor. Meu amado Redentor, eu sou um pobre pecador, mas Vós assegurais que viestes para curar os enfermos. Eu sou um réprobo por causa de meus pecados, mas Vós viestes para salvar o que estava perdido . Que poderei, pois, temer, se quiser emendar-me e ser Vosso?

Só devo ter medo de mim mesmo e da minha fraqueza; mas a minha fraqueza e pobreza devem aumentar a minha confiança em Vós, que Vos gloriais de ser o refúgio dos pobres e prometestes atender a todos os seus desejos: O Senhor ouviu os desejos dos pobres ). Eis a graça que Vos peço, ó meu Jesus, dai-me confiança em Vossos merecimentos, e fazei com que sempre me recomende a Deus pelos Vossos méritos. Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, livrai-me do Inferno e em primeiro lugar do pecado. Pelos méritos desse Vosso Filho, dai-me luz para conhecer a Vossa vontade; dai-me força contra as tentações; dai-me o dom do Vosso santo amor. Sobretudo suplico-vos a graça de sempre pedir que me ajudeis pelo amor de Jesus Cristo, que prometeu que haveis de conceder tudo quanto se pedir àqueles que Vos pedirem em seu nome. Se perseverar em pedir assim, serei salvo; se não o fizer, serei com certeza condenado.

Maria Santíssima, impetrai-me a grandíssima graça da oração, da perseverança em recomendar-me sempre a Deus e a vós, visto que obtendes de Deus tudo quanto quiserdes.

Quinta-feira da 2ª semana do Advento

Jesus, homem de dores desde o seio de sua Mãe

O homem de dores e experimentado nos trabalhos.

Sumário

O primeiro Adão gozou durante algum tempo as delícias do paraíso terrestre; mas o segundo Adão, Jesus Cristo, não teve nem sequer um instante em Sua vida que não fosse cheio de aflições e agonias, porquanto desde o começo afligiu-o a dolorosa previsão de todas as penas e ignomínias que deveria padecer e, particularmente, a previsão da ingratidão que os homens Lhe dispensariam. Oh, céus! Nós também temos contribuído para contristar esse amabilíssimo coração.

Meditações para o Advento: ponto I

O profeta Isaías chama a Jesus Cristo o homem de dores. E com razão, porquanto a natureza humana de Jesus foi criada expressamente para padecer, e, assim, desde o berço começou a sofrer as maiores dores, que os homens jamais têm sofrido. Para o primeiro homem, Adão, houve um tempo em que gozava as delícias do paraíso terrestre; mas o segundo Adão, Jesus Cristo, não teve nem sequer um instante de vida que não fosse cheio de aflições e agonias. Desde o berço afligiu-o a dolorosa previsão de todas as penas e ignomínias que deveria padecer no correr de Sua vida e particularmente na hora de Sua morte, quando deveria terminar a vida como que submergido num oceano de dores e de opróbrios, assim como o predisse Davi: Cheguei ao alto mar e a tempestade me submergiu .

Desde o seio de Maria, Jesus Cristo aceitou obediente a ordem de Seu Pai acerca da Sua Paixão e morte. De sorte que, já antes de nascer, previu os açoites e apresentou Seu corpo para recebê-los; previu os espinhos e apresentou-lhes a cabeça; previu as bofetadas e apresentou-lhes as faces; previu os cravos e apresentou-lhes as mãos e os pés; previu a cruz e apresentou a Sua vida. Daí é que o nosso Redentor, desde a primeira infância e a cada instante da Sua vida, padeceu um contínuo martírio, e a cada instante oferecia esse martírio por nós ao Pai Eterno.

Mas o que mais O atormentou foi a vista dos pecados que os homens haviam de cometer, mesmo depois da Sua tão dolorosa Redenção. Na luz divina, conhecia Jesus perfeitamente a malícia de cada pecado e veio ao mundo exatamente para tirar os pecados; porém, ao ver em seguida o número tão grande de pecados que ainda seriam cometidos, a angústia que o Coração de Jesus sofreu foi maior do que a que têm sofrido ou ainda sofrerão todos os homens da Terra.

Meditações para o Advento: ponto II

Meu doce Redentor, quando é que começarei a ser grato para com Vossa bondade infinita? Quando começarei a reconhecer o amor que me tendes consagrado, e as penas que tendes sofrido por minha causa? Nos tempos passados, em vez de amor e de gratidão, paguei-vos com ofensas e desprezos. Deverei continuar a viver sempre tão ingrato para convosco, meu Deus, que nada poupastes para adquirir para Vós o meu amor? Não, Jesus meu, não há de ser assim. Nos dias de vida que ainda me restam, quero ser-vos grato; e Vós mesmo deveis ajudar-me nisso. Se Vos tenho ofendido, as Vossas penas, a Vossa morte, são a minha esperança. Prometestes perdoar a quem se arrepende. Arrependo-me de todo o meu coração de Vos ter desprezado. Cumpri a Vossa promessa, amor meu, e perdoai-me.

Ó meu caro Menino, contemplo-vos nessa manjedoura como que já pregado na cruz, visto que esta Vos está presente e Vós a aceitais por mim. Ó Menino crucificado – assim quero chamar-vos – eu Vos agradeço e Vos amo. Deitado sobre essa palha, padecendo por mim e preparando-vos para morrer por amor de mim, Vós mandais e me convidais a amar-vos: Amarás ao Senhor teu Deus . Não desejo outra coisa senão amar-vos. Já que quereis ser amado por mim, dai-me todo esse amor que pedis. O amor para convosco é um dom Vosso, e o dom mais precioso que podeis conferir a uma alma. Aceitai, ó meu Jesus, o amor de quem, pecando tantas vezes, Vos tem ofendido. Vós baixastes do Céu para buscar as ovelhas perdidas: buscai-me, pois, a mim, que eu não busco senão a Vós. Vós quereis a minha alma, e a minha alma não quer senão a Vós. Vós amais a quem Vos ama, segundo a vossa palavra: Eu amo a quem me ama . Eu Vos amo, amai-me também Vós; e se me amais, prendei-me ao Vosso amor, mas prendei-me de tal maneira que eu não possa mais separar-me de Vós.

Maria, minha Mãe, ajudai-me. Seja uma nova glória para vós verdes vosso Filho amado por um miserável pecador, que em outros tempos tanto o tem ofendido.

Sexta-feira da 2ª semana do Advento

Na cruz acha-se a nossa salvação

É a árvore de vida para aqueles que lançarem mão dela; e é bem-aventurado quem a não largar.

Sumário

Se quisermos salvar-nos, é mister que nos resolvamos a carregar com paciência a cruz que Deus nos manda, e morrer nela por amor de Jesus Cristo, assim como Ele morreu na cruz por amor a nós. É esse também o meio para acharmos a paz nos sofrimentos. Quem recusa aceitar a cruz, de ordinário aumenta-lhe o peso; ao passo que quem a abraça e carrega com paciência, tira-lhe o peso e converte-a em consolação.

Meditações para o Advento: ponto I

Na cruz acha-se a nossa salvação, a nossa força contra as tentações, o desapego dos prazeres terrenos; na cruz, em suma, acha-se o verdadeiro amor de Deus. Mister é, pois, que nos resolvamos a carregar com paciência a cruz que Deus nos envia, e a morrer nela por amor de Jesus Cristo, que morreu na Sua por amor a nós. Não há outro caminho por onde se entre no Céu, senão o da resignação nas tribulações até a morte. O meio para acharmos a paz nos próprios padecimentos, é a uniformidade com a vontade divina. Se não usarmos deste meio, dirijamo-nos aonde quisermos, façamos quanto pudermos, mas não conseguiremos subtrair-nos ao peso da cruz. Ao contrário, se a carregarmos de boa vontade, a cruz nos levará ao Céu, e nos dará a paz nesta terra.

O que faz quem rejeita a cruz? Aumenta-lhe o peso. Mas quem a abraça e carrega com paciência, alivia-a e converte-a em doçura. Deus é profundo com todos aqueles que de boa vontade carregam a cruz para Lhe agradarem. O padecimento não apraz a nossa natureza; porém, quando o amor divino reina num coração, fá-lo aceitável. Ah! Se considerássemos bem o estado de felicidade que gozaremos no Paraíso, se fôssemos fiéis a Deus em sofrermos sem lamentos os trabalhos da vida, decerto não nos queixaríamos de Deus, que nos envia cruzes. Antes havíamos de lhas agradecer, e até havíamos de pedir mais sofrimentos ainda. Se somos pecadores, devemo-nos consolar nas tribulações que vierem, e pensar que Deus nos castiga na vida presente porque é isso sinal certo de que Ele quer livrar-nos do castigo eterno. Ai do pecador que goza de prosperidade na Terra! Quem tiver de sofrer alguma grave tribulação, lance um olhar ao Inferno merecido, e toda a pena se lhe afigurará leve.

Meditações para o Advento: ponto II

Se quisermos ser santos, devemos transformar o nosso gosto. Enquanto não chegarmos a achar doce o que é amargoso, e amargoso o que é doce, nunca nos poderemos unir perfeitamente com Deus. Toda a nossa segurança e perfeição está em sofrermos com resignação todas as contrariedades que nos vierem cada dia, e em sofremo-las para agrado de Deus, o que constitui o fim principal e mais nobre que podemos ter em vista em todas as nossas obras.

Portanto, ofereçamo-nos sempre a Deus, prontos a carregar toda a cruz que nos queira enviar. Conservemos-nos sempre preparados para sofrer por Seu amor todo o trabalho, a fim de que, quando nos venha algum, estejamos prontos a abraçá-lo. Quando se nos afigurar mais duro o peso da cruz, recorramos logo à oração, para que Deus nos dê força para a carregarmos com merecimento. Avivemos então, mais do que nunca, a nossa fé, e lancemos um olhar sobre Jesus crucificado, que está agonizando na cruz por amor a nós. Lancemos também um olhar para o céu e lembremo-nos do que diz São Paulo, a saber, que toda a tribulação terrestre, por mais dura que seja, não está em proporção com a glória que Deus nos prepara na vida.

Ó meu Jesus, quanto consolo me dá a Vossa Palavra: Convertei-vos a mim, e eu me converterei a vós . Eu Vos deixei por amor às criaturas e às minhas míseras satisfações; mas agora que deixo tudo e me converto a Vós, estou certo de que não me repelireis, uma vez que Vos quero amar. Recebei-me na Vossa graça e fazei-me conhecer o grande bem que sois e o amor que me tendes, a fim de que nunca mais me aparte de Vós. Jesus meu, perdoai-me os desgostos que Vos tenho dado, fazei que Vos ame sempre e nada mais quero.

Ó Maria, recomendai-me a vosso Filho; ele vos concede quanto lhe pedis; em vós confio.

Sábado da 2ª semana do Advento

Maria Santíssima, modelo de paciência

A paciência vos é necessária, a fim de que fazendo a vontade de Deus alcanceis a promessa.

Sumário

Deu-nos Deus a Santíssima Virgem, como exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Semelhante à rosa, ela cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulações. Se, portanto, quisermos ser filhos desta Mãe, devemos procurar imitá-la, abraçando com resignação as cruzes; e não somente as que nos vierem diretamente de Deus, mas também as que nos vierem por parte dos homens, tais como sejam as perseguições e os desprezos.

Meditações para o Advento: ponto I

Sendo esta terra um lugar de merecimentos, chama-se com razão vale de lágrimas . Todos somos aqui postos para padecer, e fazer, por meio da paciência, aquisição de nossas almas para a vida eterna, como já disse o Senhor: Na paciência possuireis as vossas almas (Lc 21,19). Deus nos deu a Virgem Maria por exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Entre outras coisas, pondera São Francisco de Sales que foi exatamente para este fim que, nas bodas de Caná, Jesus Cristo deu à Santíssima Virgem aquela resposta, como mostrando estimar pouco as suas súplicas: Que há entre mim e ti, mulher? . Foi exatamente para nos dar o exemplo da paciência da Sua santa Mãe.

Porém, que andamos excogitando? Toda a vida de Maria foi um exercício contínuo de paciência; porquanto, como o anjo revelou a Santa Brígida, a Santíssima Virgem, semelhante à rosa, cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulações. Só a compaixão das penas do Redentor foi suficiente para fazê-la mártir de paciência, razão porque disse São Bernardino de Siena: “A Crucificada concebeu o Crucificado”. E o quanto ela sofreu, tanto na viagem ao Egito e na demora ali, como durante todo o tempo em que viveu com o Filho na oficina de Nazaré, não cansemos de apreciá-lo dignamente. Porém, deixando todo o mais de lado, não basta porventura só a companhia que Maria fez a Jesus moribundo no Calvário, para fazer conhecer quão constante e sublime foi a sua paciência? Ao pé da cruz de Jesus estava a sua Mãe . No dizer de Santo Alberto Magno, precisamente pelo merecimento desta sua paciência foi ela feita nossa Mãe, que, compadecendo com seu Filho, nos gerou à vida da graça.

Meditações para o Advento: ponto II

Se desejamos ser filhos de Maria, é preciso que procuremos imitá-la na paciência, suportando em paz tanto as cruzes que nos vierem diretamente de Deus – isto é, a pobreza, as des- consolações espirituais, a enfermidade e a morte – como também as que nos vierem da parte dos homens – perseguições, desprezos, injúrias e seduções. São Gregório, ao explicar o seguinte trecho de Oseias: Fecharei o teu caminho com espinhos , diz que, assim como a sebe de espinhos guarda a vinha, assim também Deus cerca de tribulações os Seus servos, para que se não afeiçoem ao mundo. De modo que, conclui São Cipriano, a paciência é a virtude que nos livra do pecado e do Inferno, e nos enriquece com merecimentos na vida presente e com glória na outra. É a paciência que faz os santos, como diz São Tiago: Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma .

Por esta razão, São João viu todos os santos com palmas (símbolo do martírio) nas mãos ; o que significa que todos os adultos que se salvam devem ser mártires – seja de sangue, seja de paciência. “Alegremo-nos, pois”, exclama São Gregório, “se sofremos com paciência as penas desta vida; podemos ser mártires, sem o ferro dos algozes.” Oh, quanto nos aproveitará no Céu cada pena sofrida por amor de Deus! Se alguma vez o peso da cruz se nos afigurar demasiadamente duro, recorramos a Maria, que é chamada a medicina dos corações angustiados e a consoladora dos aflitos.

Ah, Senhora minha suavíssima! Padecestes inocente com tanta paciência, e eu, réu do Inferno, recusarei padecer? Minha Mãe, peço-vos hoje esta graça, não de ficar livre de cruzes, mas de suportá-las com paciência. Por amor de Jesus vos peço que sem tardar me alcanceis de Deus esta graça; de vós a espero.

Terceiro domingo do Advento

O testemunho de São João Batista e a modéstia cristã

Eu sou a voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, assim como o disse o profeta Isaías.

Sumário

À imitação de São João Batista, procuremos sempre, ao falar de nós mesmos ou sobre as coisas que nos dizem respeito, abaixar-nos e nunca nos exaltarmos acima dos outros. Quem se abaixa, nunca saíra prejudicado; mas, por pouco que alguém se exalte acima do que é, pode causar-se grande dano. Além disso, é sabido de todos que os louvores em boca própria não trazem honra, senão desprezo.

Meditações para o Advento: ponto I

O Evangelho de hoje , como diz São Gregório, faz ressaltar claramente a humildade do Batista. Muito embora estivesse adornado de tais e tantas virtudes, como se pudesse ser ele o Messias prometido, não somente recusou terminantemente esse nome, dizendo: Eu não sou o Cristo , como ainda mais, protestou não ser digno nem sequer de desatar os cordões das sandálias do Redentor .

Constrangido, pois, a dar informações acerca de si próprio, cala a nobreza de seus pais, a dignidade sacerdotal, e apenas revela o que é indispensavelmente necessário, a saber, o seu ofício de Precursor de Jesus Cristo: Eu sou a voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor .

nte desejas agradar a Deus e, assim, preparar-te para fazer o divino Menino em teu coração. Evita de dizer qualquer palavra de louvor próprio, tanto acerca da tua conduta, dos teus talentos e exercícios de virtudes, como acerca da tua família, enaltecendo a nobreza, as riquezas, o parentesco. Em uma palavra, no falar do que te diz respeito ou de ti mesmo, procura sempre, à imitação do Batista, abaixar-te e nunca te exaltares acima dos outros. Fala antes do mal do que o bem; descobre antes os teus defeitos, do que as ações que talvez tenham aparência de virtudes. Abaixando-te, nunca te prejudicarás; mas, como diz São Bernardo, por pouco que te exaltes acima do que és na verdade, podes causar-te grande mal. Além disso é bem conhecido o adágio comum: “Louvor em boca própria é vitupério”.

Ademais, melhor será que nas conversações não fales absolutamente de ti próprio, nem para bem, nem para mal, considerando-te como pessoa tão vil, que nem sequer mereça ser mencionada. Quantas vezes não sucede que, contando coisas mesmo para a nossa própria confusão, insinue-se alguma oculta e fina soberba e que, interiormente, desejemos ser elogiados ou ao menos ser tidos por humildes e virtuosos?

Meditações para o Advento: ponto II

Se, por acaso, sem culpa tua, te louvarem, procura então haver-te assim como se houveram os santos e nos ensinaram. Quer dizer: lança uma vista sobre tantos defeitos teus; confunde-te interiormente por não possuíres os méritos que te atribuem. Treme pensando que talvez a estima dos homens não seja a maior desgraça que te pode suceder, porquanto, pela vã complacência, pode te fazer perder todos os merecimentos que porventura tenhas adquirido perante Deus. Ademais, pode infectar-te o coração, fomentando-te o orgulho e, assim, ser a causa de tua queda e eterna condenação. Por isso, diz São Franciso de Sales que os louvores são um veneno doce e desapercebido, que mais de uma vez têm dado a morte à virtude e à piedade dos mais santos e piedosos. Sobretudo, quando perceberes que te elogiam, olha para Jesus Crucificado, que, por amor a ti, longe de buscar os louvores, preferiu ser o homem mais desprezado, ou, antes, o mais abjeto entre todos os homens: escória da humanidade .

Ó meu Jesus, envergonho-me de comparecer na Vossa presença! Vós, embora inocente, fostes por amor a mim cumulado de ignomínias, e eu, pecador, tão ávido sou de louvores e honras! Ah, meu Deus, como me vejo desigual a Vós! Isso me faz temer pela minha salvação eterna, visto que os predestinados Vos devem ser achados conformes. Mas não quero perder a confiança em Vossa misericórdia; Vós mesmo me deveis mudar. Amo-vos, Bondade infinita; arrependo-me dos desgostos que Vos tenho causado com o meu orgulho, e proponho sofrer por Vosso amor qualquer desprezo, qualquer injúria que me for feita. Vós, ó Senhor, inclinai os Vossos ouvidos às minhas súplicas e ilustrai as trevas do meu espírito com a graça de Vossa visita. Dai-me força para guardar fielmente o meu propósito. Quero sempre dizer-vos: “Ó Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”. Ajudai-me também vós, ó Maria, a mais humilde de todas as criaturas.

Segunda-feira da 3ª semana do Advento

Jesus Menino toma sobre si todos os pecados dos homens

O meu servo justo justificará muitos, e tomará sobre si as iniquidades deles.

Sumário

Jesus Cristo quis não somente tomar a aparência de pecador, senão ainda tomar sobre Si todos os pecados dos homens e satisfazer por eles, como se fossem os Seus próprios. Desde criança, viu em particular todos os pecados de cada um de nós, e aquela vista Lhe cruciou a alma muito mais do que em seguida a crucifixão e a morte Lhe cruciaram o corpo. Eis aí a bela maneira como recompensamos o amor de nosso divino Salvador…

Meditações para o Advento: ponto I

Considera que o Verbo Divino, fazendo-se homem, não somente quis tomar a aparência de pecador, como ainda tomar sobre Si todos os pecados dos homens e prestar contas por eles, como se fossem os Seus próprios: Tomará sobre si as iniquidades deles. E acrescenta Cornélio à Lápide : “…como se Ele mesmo as tivesse cometido”. Consideremos aqui como o Coração de Jesus Menino, já então carregado de todos os pecados do mundo, devia sentir-se oprimido e angustiado, vendo que a justiça divina exigia d’Ele plena satisfação. Ele conhecia bem a malícia de cada pecado, porquanto na luz da Divindade que sempre O acompanhava conhecia imensamente melhor do que todos os homens e todos os anjos a bondade infinita de Seu Pai, e o Seu infinito direito a ser respeitado e amado. E via diante de Si, como que em longas fileiras, uma multidão inumerável de pecados, a serem cometidos por aqueles mesmos homens pelos quais deveria padecer e morrer.

Uma só vez o Senhor deixou ver Santa Catarina de Gênova a fealdade de um único pecado venial. Foi tão grande o espanto e a dor da santa, que caiu sem sentidos por terra. Ora, qual não deve ter sido a aflição de Jesus Menino, quando, no mesmo instante em que baixou à terra, viu posta diante de Si a multidão imensa de todos os delitos humanos pelos quais deveria pagar! Então, viu em particular todos os pecados de cada um de nós. Diz o Cardeal Hugo que “os algozes o fizeram padecer exteriormente, crucificando-o; mas nós, interiormente, cometendo o pecado”. Quer dizer que cada pecado nosso afligiu mais a alma de Jesus Cristo do que a crucificação e a morte Lhe afligiram o corpo. Eis aí a bela maneira por que cada um que tem lembrança de haver ofendido o Salvador com pecados mortais, lhe recompensou o divino amor…

Meditações para o Advento: ponto II

Meu amado Jesus, já que Vos tenho ofendido, sou indigno de receber graças; mas pelos merecimentos das dores que padecestes e oferecestes a Deus, ao ver todos os meus pecados, e em satisfazer por eles à divina justiça, concedei-me um raio da luz com a qual Vós conhecestes a malícia, e uma parte da abominação com que Vós então a detestastes. Será, pois, verdade, ó meu amável Salvador, que eu, desde que nascestes e em cada momento da Vossa vida, tenha sido o algoz de Vosso Coração, e algoz mais cruel do que aqueles que Vos crucificaram? E essa dor tê-la-ei renovado e aumentado todas as vezes que tornei a ofender-vos. Ó, Senhor, Vós já morrestes para me salvar; porém, para minha salvação não basta a Vossa morte, se de minha parte não deteste, mais do que qualquer outro mal, as ofensas que Vos tenho feito e não me arrependa delas com sincera dor. Vós mesmo deveis dar-me essa dor, e Vós a concedeis a quem a pede. Pelos merecimentos de todas as penas que padecestes em terra, eu Vos peço: dai-me a dor de meus pecados, mas uma dor que seja proporcional à minha maldade. Ajudai-me, ó Senhor, a fazer o ato de contrição que agora quero fazer.

Ó Deus eterno, supremo e infinito Bem, eu, verme miserável, tive ânimo de desrespeitar-vos e de desprezar a Vossa graça. Mais do que todos os outros males, detesto e odeio as injúrias que Vos tenho feito; delas me arrependo de todo o coração, não tanto por causa do Inferno merecido, como por ter ofendido a Vossa bondade infinita. Espero, pelos merecimentos de Jesus Cristo, obter o perdão; e com o perdão espero também obter a graça de Vos amar. Amo-vos, ó Deus, digno de um amor infinito, e sempre quero dizer-vos: eu Vos amo, eu Vos amo. Como a Vossa Santa Catarina de Gênova, ao contemplar-vos crucificado, também eu, prostrado agora a Vossos pés, quero dizer-vos: Meu Senhor, nenhum pecado mais, nenhum pecado mais. Não, Vós, ó Jesus, não mereceis ser ofendido: mereceis somente ser amado. Redentor meu, ajudai-me.

Maria, minha Mãe, valei-me; não vos peço outra coisa, senão que eu viva amando a Deus na vida que ainda me resta.

Terça-feira da 3ª semana do Advento

No inferno sofre-se sempre

Serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos. (Ap 20,10)

Sumário

Consideremos que o Inferno é o mais tristes dos cárceres, no qual se sofrem todas as penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem anos, passarão mil, e o Inferno apenas terá começado. Passarão cem mil séculos, passarão cem milhões, e o Inferno estará ainda no seu princípio. Ora, esse Inferno nos está também preparado, se não nos aplicarmos ao serviço de Deus, se O ofendermos pelo pecado. Quantos dentre os que, como nós, meditaram nesse horroroso cárcere, estão agora nele queimando para sempre!

Meditações para o Advento: ponto I

Considera que o Inferno não tem fim; sofre-se nele todas as penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem anos de sofrimentos, passarão mil, e o Inferno terá apenas começado. Passarão cem mil, cem milhões, mil milhões de anos e de séculos, e o inferno estará ainda no seu princípio. Se um anjo fosse nesta hora dizer a um réprobo que Deus quer livrá-lo do Inferno, mas quando? Quando tiverem passado tantos milhões de séculos quantas são as gotas de água, as folhas das árvores, e os grãos de areia que existem no oceano e na Terra, vós havereis de ficar pasmos; porém, a verdade é que aquele réprobo sentiria mais alegria com tal notícia do que vós se vos dessem a notícia de haverdes sido eleito rei de um grande reino. Sim, porque o réprobo diria consigo: “É verdade que devem passar tantos séculos, mas chegará o dia em que terminarão”. Porém, os séculos hão de passar, e o Inferno estará no seu princípio; suceder-se-á tantas vezes igual número de séculos quantos são os grãos de areia, as gotas de água, as folhas das árvores, e ainda o Inferno estará no seu princípio. Cada réprobo de boa vontade proporia a Deus esta condição: “Senhor, aumenta as minhas penas tanto quanto Vos aprouver; prolongai-as tanto quanto for da Vossa vontade, mas pondera-lhe um termo qualquer dia e ficarei contente”. Mas não, esse fim nunca chegará.

Se o pobre réprobo pudesse ao menos iludir-se e consolar-se dizendo: “Quem sabe? Talvez um dia Deus se apiede de mim e me livre do Inferno!”. Mas não, o desgraçado réprobo terá incessantemente diante da vista a sentença de sua condenação eterna, e dirá: “Todas as penas que agora estou sofrendo, o fogo, os lamentos, nunca mais terão fim! Nunca! E quanto tempo durarão? Sempre, sempre! Oh, nunca! Oh, sempre! Oh, eternidade! Oh, inferno! Como?! Os homens o creem e pecam e continuam a viver no pecado?!”.

Meditações para o Advento: ponto II

Irmão meu, põe sentido; lembra-te de que o Inferno é também para ti, se cometeres o pecado. Já está ardendo essa fornalha horrorosa debaixo de teus pés, e, no momento em que estás lendo isto, quantas almas caem nela? Lembra-te de que, se uma vez caíres ali, nunca mais poderás sair. Se alguma vez mereceste o Inferno, dá graças a Deus por não te ter lançado nele. Procura o mais depressa possível reparar o mal feito, chora os teus pecados e emprega os meios mais aptos para a tua salvação. Confessa-te o quanto antes, lê cada dia um pouco um livro espiritual; pratica a devoção a Maria Santíssima recitando cada dia o Terço e jejuando cada sábado: resiste às tentações, chamando logo por Jesus e Maria: foge das ocasiões do pecado, e se Deus te chamar para deixares o mundo, faze-o, obedece. Tudo quanto se fizer para livrar-se de uma eternidade de penas é pouco, é nada: “Nenhuma cautela é demasiada, quando é a eternidade que está em jogo”, como diz S. Bernardo. Quantos eremitas foram viver em grutas, nos desertos, a fim de fugir do Inferno! E tu, o que fazes depois de tê-lo merecido tantas vezes? Que fazes? Que fazes? Vê que te condenas. Entrega-te a Deus e dize-lhe:

“Eis-me aqui, ó Senhor meu: quero fazer tudo quanto me pedirdes. Graça Vos dou por me terdes suportado até hoje com tanta paciência; agradeço-vos as luzes que agora me destes, fazendo-me ver a minha insensatez, e o mal que fiz ultrajando-vos com tão numerosos pecados. Ah! Jesus, doce Salvador meu, detesto-os e arrependo-me de toda a minha alma. Amo-vos sobre todas as coisas. Vós não me condenastes ao Inferno, a fim de que eu comece a amar-vos. Sim, quero amar-vos, e quero amar-vos muito. Dai-me a força para compensar com o meu amor os desgostos que Vos tenho dado. Doce coração de Maria, sede minha salvação.

Quarta-feira da 3ª semana do Advento

Jesus, fonte de graças

Tirareis com gosto águas das fontes do Salvador!

Sumário

Consideremos as quatro fontes de graças que possuímos em Jesus Cristo. Ele é uma fonte de misericórdia, na qual nos podemos limpar de nossas imundícias; uma fonte de paz e de consolação em nossas tribulações; uma fonte de devoção, que nos faz prontos, na obediência à voz divina; afinal, uma fonte de amor, que nos abrasa no fogo do amor divino. Aproximemo-nos com confiança, e, vamos frequentemente apagar a nossa sede nessas fontes inesgotáveis.

Meditações para o Advento: ponto I

Considera as quatro fontes de graças que possuímos em Jesus Cristo, segundo a contemplação de São Bernardo. A primeira fonte é de misericórdia, na qual nos podemos limpar de todas as imundícias dos nossos pecados. O Redentor fez-nos manar esta fonte com as suas lágrimas e o seu sangue: Ele nos amou e nos lavou de nossos pecados em seu sangue .

A segunda fonte é de paz e de consolação em nossas tribulações. Invoca-me, diz o Senhor, no dia da tribulação, e eu te consolarei . “Quem tem sede das verdadeiras consolações, também nesta terra, venha a Mim e eu o saciarei”: Se alguém tiver sede, venha a mim e beba . “Quem prova a água de Meu amor, aborrecerá para sempre todas as delícias do mundo”: O que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede . “E ficará plenamente satisfeito, quando entrar no reino dos bem-aventurados, porquanto a água da Minha graça o fará subir da Terra ao Céu”: Virá a ser nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna . A paz que Deus dá às almas que O amam não é como a paz que o mundo promete nos prazeres sensuais, que deixam atrás de si mais amargura da alma do que paz. A paz que Deus dá leva vantagem a todos os gozos dos sentidos. Bem-aventurados, pois, aqueles que suspiram por esta fonte divina: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça .

A terceira fonte é de devoção. Oh, como se torna devoto e diligente em obedecer à voz divina, e como vai sempre crescendo em virtude, aquele que com frequência medita em tudo que Jesus Cristo tem feito por nosso amor! Será como a árvore plantada junto às correntes das águas .

Meditações para o Advento: ponto II

Enfim, Jesus Cristo é a fonte de amor. Na minha meditação se abrasará o fogo . Não é possível que o que medita nos sofrimentos e nas ignomínias que Jesus padeceu por amor a nós, não seja abrasado no fogo sagrado, que Ele veio acender na Terra. E assim se verifica inteiramente que quem se aproveita das fontes benditas que possuímos em Jesus Cristo, tirará com gosto águas das fontes do Salvador: Vós tirareis com alegria água das fontes da salvação .

Ó meu doce e amado Salvador, quanto Vos devo! Como me constrangestes a amar-vos! Vós fizestes por mim o que nunca um filho teria feito por seu pai, nem um criado por seu senhor. Se, pois, me haveis amado mais que qualquer outro, é justo que Vos ame sobre todos os outros. Quisera morrer de dor, pensando que tanto padecestes por mim, e que chegastes a aceitar por meu amor a morte mais dolorosa e ignominiosa que um homem pode padecer, ao passo que eu tantas vezes tenho desprezado a Vossa amizade. Quantas vezes Vós me haveis perdoado e eu Vos tornei a desprezar! Mas os Vossos merecimentos são a minha esperança. Agora estimo a Vossa graça mais do que todos os reinos do universo. Amo-vos e por Vosso amor aceito qualquer pena, qualquer morte. Se não sou digno de morrer pela mão do algoz para defender Vossa glória, aceito ao menos de boa vontade aquela morte que me tenhais destinado; aceito-a do modo e no tempo que tenhais marcado.

Minha Mãe, Maria, impetrai-me a graça de viver e de morrer no amor de Jesus.

Quinta-feira da 3ª semana do Advento

Jesus atribulado durante toda a sua vida

Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade.

Sumário

Jamais alguém amou Deus e a própria alma como Jesus ama Seu Pai e as nossas almas. Por isso é que Jesus, vendo desde o seio de Maria todos os pecados em particular – e conhecendo tanto a injúria por eles feita ao Pai, como os males que deles deviam provir para as nossas almas – sofreu durante toda a Sua vida o martírio mais doloroso. Mas se Jesus se afligiu a tal ponto por pecados que não eram Seus próprios, é mais do que justo que nós também nos aflijamos, posto que os havemos cometido.

Meditações para o Advento: ponto I

Considera que todas as penas e ignomínias que Jesus sofreu em Sua vida e na morte Lhe eram presentes desde o primeiro instante da Sua vida: A minha dor está sempre diante de mim . Desde o berço, Jesus começou a oferecer todas essas penas em satisfação por nossos pecados, principiando desde então a ser o nosso Redentor. Ele mesmo revelou a um Seu servidor que desde o começo de Sua vida até à morte sofreu, e sofreu tanto por qualquer um dos nossos pecados que, se houvesse tido tantas vidas quantos homens existem, teria morrido de dor igual número de vezes, se Deus não Lhe tivesse conservado a vida para sofrer ainda mais. Oh! Que martírio padeceu incessantemente o Coração amante de Jesus pela vista de todos os pecados dos homens! Segundo São Bernardino, desde que Jesus desceu ao seio de Maria, cada pecado em particular era-lhe presente, e cada pecado afligia-o imensamente.

Meditações para o Advento: ponto II

Santa Margarida de Cortona nunca deixou de chorar as suas culpas. Certo dia, disse-lhe o confessor: “Margarida, deixa-te de chorar; o Senhor já te perdoou”. “Como?”, respondeu a santa, “como poderei dar-me por satisfeita com as lágrimas derramadas e com a dor daqueles pecados que afligiram o meu Jesus Cristo durante a Sua vida toda?”. Imitemos esta santa pecadora e, pensando muitas vezes nos nossos pecados, digamos frequentemente ao Senhor:

Ó meu Jesus, eis aqui a Vossos pés o ingrato, o perseguidor, que Vos fez sofrer durante toda a Vossa vida. Mas dir-vos-ei com Isaías : Tu livraste a minha alma, para que não pereça, lançaste atrás das tuas costas todos os meus pecados. Eu Vos ofendi e Vos traspassei o Coração com tantos pecados, mas Vós não recusastes tomar sobre Vós todas as minhas culpas. Eu por minha livre vontade tenho condenado a minha alma a arder no Inferno, cada vez que consenti em ofender-vos gravemente, e Vós, como preço de Vosso Sangue, não Vos cansastes de livrá-la e de fazer que não ficasse perdida. Meu amado Redentor, graças Vos dou, e quisera morrer de dor ao pensar que tenho ofendido tão gravemente a Vossa bondade infinita.

Ó meu amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Dissestes que não Vos considerais indigno de entrar no coração de quem Vos abre a porta, e de fazer-lhe companhia: Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo . Se em outros tempos Vos repulsei de mim, agora Vos amo e não quero outra coisa senão a Vossa graça. Eis que Vos abro a porta, entrai em meu pobre coração, mas entrai para nunca mais sair dele. Meu coração é pobre, mas entrando nele Vós o fareis rico. Serei rico enquanto Vos possuir, ó supremo Bem.

Ó Rainha do Céu, Mãe aflita desse aflito Filho, a vós também causei dores amargosas, porquanto tivestes tão grande parte nos sofrimentos de Jesus. Minha Mãe, perdoai-me e alcançai-me a graça de servir fielmente, agora que, como espero, Jesus de novo entrou em minha alma.


Novena de Natal 2025

Faltam poucos dias para celebrarmos o Natal do Senhor! Reze conosco a novena em preparação para esta grande solenidade.

1º dia: 16 de dezembro

Jesus menino consente em ser nosso redentor
“Eu te estabeleci para luz das gentes, a fim de levares a minha salvação até à última extremidade da terra.” (Is 49,6)

Muitos cristãos costumam neste tempo armar um presépio como representação do Nascimento de Jesus Cristo; mas bem poucos se lembram de preparar, com atos de amor, o seu coração a fim de que o divino Menino nele possa repousar. Do número destes também nós queremos ser. Por isso, a fim de motivar-nos, desde o primeiro dia da Novena, a pagar com nosso amor o amor de Jesus Cristo, consideremos o amor que nos mostrou, incumbindo-se, desde o primeiro instante da Sua conceição, de satisfazer por nós à divina justiça.

I. Considera como o Pai Eterno disse a Jesus Menino, no instante da Sua Encarnação, as seguintes palavras: Eu te estabeleci para luz das gentes, a fim de levares a minha salvação até à última extremidade da terra. “Meu Filho, eu Te dei ao mundo para luz e vida das nações, a fim de que lhes alcances a salvação, que eu estimo tanto como se fosse a minha própria. Mister é, pois, que Te consumas todo inteiro, para o bem dos homens. Mister é que desde o nascer sofras extrema pobreza, a fim de que o homem se faça rico. Mister é que sejas vendido como um escravo, para impetrares ao homem a sua liberdade; que, como um escravo, sejas açoitado e crucificado, a fim de pagares à Minha justiça o que o homem Lhe deve; mister é que dês o Teu sangue e a Tua vida, a fim de livrares o homem da morte eterna. Em uma palavra, sabe que não Te pertences mais a Ti mesmo, senão aos homens. Assim, meu dileto Filho, o homem render-se-á ao Meu amor; será todo Meu, vendo que eu lhe dei o Meu Unigênito, sem reserva alguma, e que nada mais Me resta para lhe dar”. Tanto amou Deus o mundo, que lhe deu seu unigênito ( Jo 3,16). Oh, amor infinito, digno unicamente de um Deus infinito!

A semelhante proposta, Jesus Menino não Se entristece; antes, nela se compraz, aceita-a com amor e exulta: Deu passos como gigante para correr o caminho (Sl 18,6). Desde o primeiro instante da Sua Encarnação, Jesus Se dá todo ao homem, e abraça com alegria as dores e ignomínias que na terra teria de sofrer por amor dos homens. Pondera aqui que o Pai celestial, mandando Seu Filho para ser nosso Redentor e medianeiro entre Deus e os homens, obrigou-se, por assim dizer, a perdoar-nos e a amar-nos, visto que prometeu receber-nos em Sua graça, contanto que o Filho satisfizesse por nós a justiça divina. Por outra parte, o Verbo divino, tendo aceitado a incumbência do Pai, que no-lo deu enviando-o para nossa redenção, obrigou-se também a amar-nos, não em vista de nossos merecimentos, mas para obedecer à vontade misericordiosa do Pai.

II. Meu amado Jesus, se é verdade, conforme reza a lei, que a doação faz adquirir o domínio, Vós sois meu, visto que nosso Pai Vos deu a mim; por mim é que nascestes, a mim é que fostes dado. Posso dizer, pois, com verdade: “Meu Jesus e meu tudo!”. Já que Vós sois meu, é meu também tudo quanto é Vosso. Assim mo garante o Vosso Apóstolo: Como não vos deu também com ele todas as coisas? (Rm 8,32). É meu o Vosso Sangue, são meus os Vossos merecimentos, são minhas as Vossas graças, é meu o Vosso paraíso. Se sois meu, quem jamais poderá separar-me de Vós? Mas, ó meu Jesus, se antigamente Vos deixei e perdi, agora pesa-me de toda a minha alma e estou resolvido a antes perder a vida e tudo, do que a perder-vos, ó Bem infinito e único Amor da minha alma.

Graças Vos dou, Pai Eterno, por me haverdes dado Vosso Filho; e porque mo destes todo a mim, eu, criatura miserável, me dou todo a Vós. Por amor desse mesmo Filho, aceitai-me e prendei-me com laços de amor ao meu Redentor; mas prendei-me de tal maneira que eu também possa dizer: Quem me separará do amor de Cristo? (Rm 8,35). Que bem terrestre será ainda capaz de separar-me do meu Jesus? E Vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que eu também sou todo Vosso. Disponde de mim, e de tudo o que é meu, como quiserdes. Será possível que eu recuse alguma coisa a um Deus que não me recusou Seu Sangue e Sua vida?

Maria, minha Mãe, guardai-me debaixo da vossa proteção. Não quero mais ser meu, quero ser todo do meu Senhor. Cuidai em fazer-me fiel; em vós confio.

2º dia: 17 de dezembro

Tristeza do Coração de Jesus no seio da Virgem Maria
“Não quiseste hóstia nem oblação, porém me formaste um corpo.” (Hb 10,5)

Tudo quanto Jesus Cristo padeceu no correr da sua vida Lhe foi posto diante dos olhos quando ainda Se achava no seio da Sua Mãe; e Jesus aceitou tudo por amor a nós. Porém, naquela aceitação e na repressão da repugnância natural, ó Deus, que aflição devia experimentar o Seu Coração! Se Jesus, embora inocente, desde o princípio da vida começou a sofrer por nós, que somos pecadores, padecemos nós alguma coisa por Seu amor e em desconto dos nossos pecados?

I. Considera a grande amargura de que o Coração de Jesus Menino devia sentir-se atormentado e oprimido no seio de Maria, quando no primeiro instante da Encarnação o Pai Eterno Lhe mostrou toda a série de desprezos, de dores e de angústias que no correr da Sua vida deveria sofrer, a fim de livrar os homens do seu estado de miséria. Eis o que ele falou pela boca do profeta Isaías: Pela manhã [o Senhor] levanta-me o ouvido” (Is 50,4). Isto é: “No primeiro instante da minha Encarnação, Meu Pai me fez conhecer a Sua vontade de que Eu levasse uma vida de sofrimentos, para ser finalmente sacrificado na cruz”. Eu não contradigo; entreguei o meu corpo aos que me feriam (Is 50,5–6). “Ó almas, aceitei tudo pela vossa salvação e desde então entreguei o Meu corpo para receber os açoites, os pregos e a morte.”

Pondera que tudo o que Jesus Cristo sofreu no correr da Sua vida e em Sua Paixão, foi-lhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de Sua Mãe. Jesus aceitou tudo com amor. Mas naquela aceitação, e na repressão de Sua repugnância natural, ó Deus, que angústias e que aflição não devia experimentar o Coração inocente de Jesus! Desde então compreendia bem quanto teria de sofrer, primeiro nascendo numa gruta fria, pousada de animais; em seguida, tendo de morar trinta anos desconhecido na oficina de um simples marceneiro. Já então, viu que os homens haviam de tratá-lo como ignorante, escravo, sedutor, réu de morte, digno da mais infamante e dolorosa morte destinada aos celerados. Tudo isso o nosso amante Redentor aceitou-o cada instante, mas cada vez que renovava a aceitação, tornava a sofrer juntas todas as penas e todas as humilhações que depois deveria sofrer até à morte. E para quê? Para salvar-nos da morte eterna a nós, miseráveis pecadores.

II. Ó meu amado Redentor, quanto Vos custou, desde a Vossa primeira entrada neste mundo, tirar-me da miséria que tinha atraído sobre mim pelos meus pecados! Para me livrardes da escravidão do demônio, a quem de livre vontade me tinha vendido, Vos sujeitastes a ser tratado como o mais vil de todos os escravos. E eu, sabedor disso, tive ânimo de amargurar tantas vezes o Vosso amabilíssimo Coração, que tanto me amou!

Mas, já que Vós, que sois inocente e sois o meu Deus, aceitastes por meu amor uma vida e uma morte tão penosas, aceito, por Vosso amor, ó Jesus meu, toda a pena que me vier das Vossas mãos. Aceito-a e abraço-a por vir daquelas mãos que um dia foram traspassadas, a fim de livrar-me do Inferno tantas vezes merecido pelos meus pecados. Ó meu Redentor, o amor que mostrastes em oferecer-vos a sofrer tanto por mim, constrange-me demais a aceitar por Vosso amor; este há de tornar para mim suaves e amáveis todas as dores, todas as ignomínias.

Amo-vos mais que a mim mesmo. Durante toda a Vossa vida me tendes dado provas demasiadamente grandes do Vosso afeto para comigo. Eu, ingrato, já tenho vivido tantos anos nesta terra, e quais são as provas de amor que Vos mostrei? Fazei, ó meu Deus, que, ao menos nos anos de vida que me restam, Vos dê alguma prova de meu amor. Não tenho coragem de comparecer na Vossa presença, quando vierdes a julgar-me, tão pobre como agora me acho, sem ter feito alguma coisa por Vosso amor. Mas, que posso fazer sem a Vossa graça? Nada senão pedir-vos que me socorrais, e este mesmo pedido ainda é uma graça da Vossa parte.

Jesus meu, socorrei-me pelos merecimentos de Vossas penas e do Sangue que por mim derramastes. Maria Santíssima, recomendai-me a vosso Filho, peço-o pelo amor que lhe tendes. Lembrai-vos que sou uma daquelas ovelhas pelas quais vosso Filho morreu.

3º dia: 18 de dezembro

Expectativa do parto da Virgem Maria
“Esperaremos por ele, e ele nos salvará.” (Is 25,9)

Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que, em comparação, os suspiros mais ardentes dos patriarcas e dos profetas pareciam frios. Todavia, Jesus não quis antecipar o Seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação da Sua entrada no mundo. Oh, que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar!

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos patriarcas e dos profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao céu dizendo: Envia aquele que deves enviar (Ex 4,13).

Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar, amava com terníssimo afeto o seu divino Filho, e por isso desejava dá-lo à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe seu amor, prestando-lhe toda sorte de serviços. Ademais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo desumano como os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que Ele queria comunicar a nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-mo também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente de vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma, abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria, ansiava pela hora de Seu nascimento, a fim de realizar a obra da Redenção do gênero humano e cumprir com a Sua missão, conforme a vontade de Seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando de Sua Paixão, disse aos discípulos: “Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o batismo de sangue com que devo ser batizado”.

Contudo, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais. Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento, em preparação para a Sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. Desta sorte, quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para O recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos, em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde antes de nascer.

Entretanto unamos os nossos desejos, de o vermos em breve nascido, aos dos patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica. “Ó, Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço”. Ó Deus, protetor fortíssimo e guia fiel de Vosso povo, vinde remir o gênero humano com o Vosso supremo poder! Vinde livrar-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o Vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas.

E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes, mediante a embaixada do anjo, que o Vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o Vosso auxílio. Fazei pelo amor do mesmo Jesus Cristo.

4º dia: 19 de dezembro

A Paixão de Jesus Cristo durou todo o tempo da sua vida
“A minha dor está sempre diante de mim.” (Sl 37,18)

Desde o instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida com Seu pequenino corpo, viu diante de Si todos os padecimentos que teria de sofrer para a redenção dos homens. Por isso, Jesus começou desde o primeiro instante da Sua vida a sofrer por amor a nós a tristeza mortal que depois padeceu no horto do Getsêmani. E como temos nós correspondido a tão grande amor? Talvez com frieza e ingratidão.

I. Considera como, no mesmo instante em que foi criada a alma de Jesus e unida com Seu pequenino corpo no seio de Maria, o Pai Eterno manifestou a Seu Filho a Sua vontade de que morresse para a redenção do mundo. Ao mesmo tempo, pôs-lhe diante dos olhos a vista triste de todos os sofrimentos que deveria sofrer até à morte, a fim de remir o gênero humano. Mostrou-lhe, então, todos os trabalhos, desprezos e pobreza que deveria suportar em toda a Sua vida, tanto em Belém como no Egito e em Nazaré. Mostrou-lhe em seguida todas as dores e ignomínias de Sua Paixão: os açoites, os espinhos, os cravos e a cruz; todos os desgostos, tristezas, agonias e abandono em que havia de terminar a Sua vida no Calvário.

Quando Abraão levava seu filho à morte, não quis contristá-lo comunicando-lhe a sorte com antecedência, nem no pouco tempo de que precisavam para chegarem ao monte. Mas o Pai Eterno quis que Seu Filho encarnado, destinado a ser vítima da divina justiça pelos nossos pecados, sofresse já então todas as penas, às quais depois deveria submeter-se na vida e na morte. Por esta razão, desde o instante em que baixou ao seio de Sua Mãe, Jesus sofreu sem interrupção a tristeza que O acabrunhou no horto, e que era suficiente para tirar-lhe a vida, assim como Ele mesmo disse: A minha alma está triste até a morte (Mt 26,38). De sorte que desde então Ele sentiu vivamente e sofreu o peso de todos os tormentos e opróbrios que O esperavam.

Toda a vida, portanto, e todos os anos do Redentor foram vida e anos de dores e de lágrimas: A minha vida tem desfalecido com a dor, e os meus anos com os gemidos (Sl 30,11). O Seu divino Coração não teve um instante livre de padecimento. Quer vigiasse, quer dormisse, sempre tinha diante dos olhos aquela triste representação que Lhe atormentou mais a Santíssima Alma do que os santos mártires foram atormentados por todos os seus suplícios. Os mártires padeceram, mas, ajudados com a graça, padeceram com alegria e ardor: Jesus, ao contrário, padeceu sempre com o Coração cheio de desgosto e tristeza, e aceitou tudo por amor a nós.

II. Ó doce, ó amável, ó amante Coração de Jesus! É, pois, verdade que desde menino estivestes repleto de amargura, e que no seio de Maria padecestes uma agonia sem consolação, sem testemunha, sem ao menos ter quem Vos aliviasse e de Vós se compadecesse. Tudo isso, ó meu Jesus, sofrestes a fim de pagar pelas penas eternas e pela agonia sem fim que deviam ser a minha sorte no Inferno por causa dos meus pecados. Padecestes privado de todo alívio, a fim de me salvar, a mim que tive a audácia de abandonar o meu Deus e de virar-lhe as costas para satisfazer a meus miseráveis apetites.

Graças Vos dou, ó Coração aflito e amante de meu Senhor. Graças Vos dou e compadeço-me de Vós, mormente por ver que, ao passo que Vós padecestes tanto por amor dos homens, estes nem sequer de Vós se compadecem. Oh, amor de Deus! Oh, ingratidão dos homens! Ó homens, ó homens, vede esse Cordeirinho inocente que está em agonia por vós, para dar à divina justiça satisfação pelas injúrias que vós lhe tendes feito. Vede como Ele está orando e intercedendo por vós junto do Eterno Pai: contemplai-o e amai-o.

Ah, meu Redentor, quão poucos são os que pensam nas Vossas dores e no Vosso amor! Ó Deus! Quão poucos são os que Vos amam! Mas ai de mim! Eu também tenho vivido muitos anos esquecido de Vós! Vós tanto padecestes para ser de mim amado, e não Vos amei. Perdoai-me, ó Jesus meu, perdoai-me; quero emendar-me e amar-vos. Desgraçado de mim, Senhor, se ainda resistisse à Vossa graça, e com a minha resistência me condenasse! As grandes misericórdias de que tendes usado comigo, e especialmente a Vossa doce voz que agora me chama ao Vosso amor, seriam o meu maior castigo no Inferno.

Meu amado Jesus, tende piedade de mim, não permitais que para o futuro eu viva ingrato ao Vosso amor. Dai-me luz, dai-me força para vencer tudo a fim de cumprir a Vossa santa vontade. Atendei-me, vo-lo peço, pelos merecimentos de Vossa Paixão. É nesta que confio, bem como na vossa intercessão, ó Maria. Minha querida Mãe, socorrei-me; vós que impetrastes todas as graças que tenho recebido de Deus, eu vo-lo agradeço; mas se não continuardes a socorrer-me, eu continuarei a ser infiel, assim como o tenho sido nos anos passados.

5º dia: 20 de dezembro

Jesus Cristo aceitou todas as dores por amor a nós
“Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós.” (Ef 5,2)

Ó amor infinito de um Deus! Um Deus quis morrer por aqueles mesmos que o haviam ofendido! E para quê? Para satisfazer a justiça divina por nossos pecados e alcançar-nos a graça divina e a glória eterna. Com razão exclamava um santo: “Conhecer o amor de Jesus Cristo e não amá-lo, é uma grande crueldade!” Pois bem, que dizes, ó cristão? Amarás enfim a Jesus Cristo?

I. Considera que Jesus Cristo, nosso Salvador, desde o primeiro instante da Sua vida teve continuamente diante dos olhos todos os tormentos e opróbrios que devia sofrer na Sua Paixão, e tudo aceitou voluntariamente. Viu as dores da Sua flagelação, a ignomínia dos escarros, a coroa de espinhos que Lhe havia de trespassar a cabeça, os cravos que Lhe deviam traspassar mãos e pés, a cruz na qual devia expirar. Viu, enfim, a Sua morte dolorosa e abandonada, e tudo aceitou com amor, para livrar da morte eterna a nós pecadores.

“Cristo nos amou”, diz o Apóstolo, “e se entregou a si mesmo por nós”. (Ef 5,2) A causa de tanto padecimento foi o amor que nos teve. Jesus amou-nos e, por nosso amor, entregou-se à morte. Sim, porque, segundo São João, “Ele nos amou primeiro”. (1Jo 4,10) Ó amor infinito de um Deus! Um Deus quis morrer por aqueles mesmos que o haviam ofendido! E para quê? Para satisfazer a justiça divina por nossos pecados e alcançar-nos a graça divina e a glória eterna.

Ah, meu Jesus, quando será que Vos amarei com verdadeiro amor? Quando será que deixarei por Vosso amor todas as coisas que me afastam de Vós? Sim, já que me amais tanto, não quero mais viver para mim, mas unicamente para Vós, meu Deus e meu tudo!

II. Meu caro Redentor, Vós me destes o maior sinal de amor que um Deus podia dar. Como poderei ainda viver sem Vos amar? Se Vos amei tão pouco no passado, quero ao menos empregar o resto da minha vida em amar-Vos com todas as minhas forças. Aceito, ó meu Jesus, todas as cruzes, trabalhos, desprezos e penas que me queirais enviar. Aceito tudo com resignação, contanto que me deis o Vosso santo amor.

Amo-Vos, ó Bondade infinita! Amo-Vos sobre todas as coisas, com todo o afeto da minha alma. Fazei que Vos ame sempre e que de Vós jamais me aparte. Ó Maria, minha Mãe, alcançai-me de vosso Filho a santa perseverança no Seu amor até à morte.

6º dia: 21 de dezembro

Jesus nasceu num presépio porque veio para sofrer
“Ele é desprezado e o último dos homens, varão de dores e experimentado nos sofrimentos.” (Is 53,3)

Jesus não quis nascer em casa de seus parentes, nem mesmo no albergue público, mas numa gruta destinada aos animais. Não quis ter por berço senão uma manjedoura, nem por aquecedor senão a palha e o bafo de dois animais. Ó pobreza! Ó humildade! Ó amor de um Deus para com os homens! Tu, Senhor, nasceste assim por mim? Faze que eu viva só para Ti.

I. Considera que, chegando o tempo de Maria dar à luz, César publicou um decreto, ordenando que cada um fosse alistar-se em sua cidade natal. José obedeceu prontamente e, confiando na Providência divina, partiu de Nazaré com Maria para Belém. Chegando ali, procuraram hospedagem entre os parentes e nos albergues, mas todos os recusaram. Não encontrando abrigo, retiraram-se para uma gruta que servia de abrigo para animais, e foi ali que nasceu o Rei do céu, o Salvador do mundo.

Ó Deus! Um estábulo serve de palácio para o Rei do céu, e uma manjedoura de berço! E quem é esse Menino que aí chora sobre a palha? É o Filho de Deus, é o próprio Deus feito homem. Ó humilhação! Ó amor incompreensível de nosso Deus!

II. Considera os sofrimentos que Jesus padeceu neste primeiro momento da Sua vida. Quis começar a sofrer desde o nascimento para mostrar-nos o quanto nos amava, e como vinha ao mundo para sofrer por nosso amor. Seu nascimento foi um mar de dores: dor da pobreza, do frio, da nudez, da palha dura, da gruta incômoda, dos animais ao redor.

Ó meu Jesus, Vós nascestes assim por mim! E eu, ingrato, tantas vezes Vos tenho desprezado e ofendido! Mas agora me arrependo de todo o coração. Não quero mais viver para mim, mas somente para Vós, que por mim quisestes nascer em tanta pobreza e dor.

Amo-Vos, ó Bem supremo, e renuncio a todos os prazeres terrenos para só a Vós amar. Fazei que eu Vos seja fiel até a morte. Ó Maria, Mãe de Jesus e minha Mãe, alcançai-me esta graça.

7º dia: 22 de dezembro

O nascimento de Jesus anuncia a redenção
“Hoje nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor.” (Lc 2,11)

Quando o Salvador do mundo nasceu na gruta de Belém, os anjos anunciaram aos pastores esta feliz nova: “Hoje nasceu para vós o Salvador”. E nós, que sabemos que Jesus já nasceu e por nós morreu, como temos correspondido a tão grande benefício? Consideremos neste dia a alegria com que foi recebido por aqueles que esperavam a Redenção.

I. Os pastores foram os primeiros a receber a notícia do nascimento do Salvador. Um anjo lhes apareceu e disse: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria: hoje nasceu na cidade de Davi o Salvador, que é o Cristo Senhor”. E no mesmo instante, uma multidão do exército celeste apareceu, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por Ele amados”.

Jesus nasceu para ser nosso Redentor, nosso Médico, nosso Mestre, nosso Pai, nosso Pastor, nosso Guia, nosso Tudo. Oh, como os pastores se alegraram ao ouvir aquela nova! E com que pressa foram adorá-lo e oferecer-lhe os dons da sua pobreza!

II. E nós, que sabemos não só que Jesus nasceu, mas que por nós morreu, ressuscitou e está presente na Eucaristia, com que afeto e gratidão O temos procurado e adorado? Ó meu Jesus, se até hoje Vos procurei tão pouco, quero, com a vossa graça, procurar-Vos daqui por diante com todo o amor do meu coração.

Fazei, ó Senhor, que minha alma seja como aquela gruta de Belém: pobre, mas limpa; humilde, mas acolhedora; silenciosa, mas repleta do Vosso amor. Vinde, ó meu Salvador, vinde nascer em meu coração e tomai posse de toda a minha vida.

Ó Maria Santíssima, que guardáveis todas essas coisas em vosso Coração, ensinai-me a meditar e amar os mistérios do vosso Filho. Ajudai-me a ser fiel a Ele todos os dias da minha vida.

8º dia: 23 de dezembro

Jesus é o desejo das colinas eternas
“O desejado de todas as nações virá.” (Ag 2,8)

Durante quatro mil anos, o mundo suspirava pela vinda do Redentor. Os patriarcas, os profetas, todos os justos do Antigo Testamento ansiavam por esse dia. E nós, que já recebemos o Messias, que temos o Senhor presente na Eucaristia, desejamo-Lo verdadeiramente? Temos sede de Sua graça, de Sua presença e de Sua glória?

I. Considera como todos os justos, desde Adão até São João Batista, suspiraram ardentemente pela vinda do Messias. Cada geração repetia: “Ah, se rasgásseis os céus e descêsseis!” (Is 63,19) E agora que Jesus veio, que nasceu, que se entregou por nós, os homens O desprezam, esquecem-se d’Ele, vivem como se nunca tivesse vindo.

Quão grande deve ser a dor do Coração de Jesus ao ver que, depois de ter feito tudo para nos salvar, é por tantos rejeitado e por poucos amado! E nós? Vivemos como redimidos? Esperamos verdadeiramente o Senhor? Desejamos que Ele reine em nossos corações?

II. Ó meu amado Jesus, vós sois o Bem supremo, o tesouro eterno, o único que podeis saciar a sede do meu coração. Quero desejar-Vos como Vos desejaram os patriarcas, quero buscar-Vos como Vos buscaram os magos, quero amar-Vos como Vos amou Maria.

Vinde, Senhor, não tardeis. Vinde habitar em mim, tomar posse da minha vida, reinar em minha alma. Seja todo meu coração para Vós, como o presépio foi Vosso berço.

Ó Maria, vós que com tanta fé e amor esperastes a hora do nascimento de vosso Filho, ensinai-me a esperar com amor, com fé e com total entrega.

9º dia: 24 de dezembro

Maria dá à luz o Salvador do mundo
“E deu à luz o seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o numa manjedoura.” (Lc 2,7)

Chegamos à véspera do santo Natal. A Mãe está prestes a dar à luz, e o mundo, sem saber, está prestes a receber o Redentor. Contemplemos neste último dia a cena bendita do nascimento de Jesus: a humildade de Maria, o silêncio de José, o frio da noite e a glória do Verbo feito carne por amor a nós.

I. Considera como, tendo chegado a hora determinada pelo Pai Eterno, Maria deu à luz o Filho de Deus. Foi um nascimento milagroso: Maria permaneceu Virgem, Jesus nasceu em extrema pobreza, no silêncio e na humildade. Aquela gruta foi o primeiro templo do novo mundo redimido, e a manjedoura, o primeiro trono do Rei dos reis.

Ó noite santa, cheia de luz! Ó pobreza ditosa, que acolheste o tesouro do céu! Ó Maria, feliz entre todas as mulheres, que nos destes o Salvador!

II. Jesus nasceu para ser nosso alimento, nosso consolo, nosso guia. Desde o primeiro instante de Sua vida fora do seio materno, quis nos ensinar a humildade, a pobreza e o desapego dos bens terrenos. Que vergonha para nós, tão apegados às comodidades e às glórias do mundo!

Ó doce Menino de Belém, que nascestes numa gruta fria e pobre, vinde também nascer em meu coração. Que ele seja Vosso presépio, Vosso trono, Vosso templo. Fazei-me pobre de espírito, desapegado do mundo, ardente no amor e generoso no serviço.

Mãe Santíssima, que embalastes nos braços o Salvador, envolvei também minha alma nas vossas ternas orações e conduzi-me sempre até Jesus.

Feliz e santo Natal!



Fonte: Biblioteca Católica

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